“Há sempre a tentação dos políticos meterem a colherada na comunicação social, nomeadamente na pública”, afirma Marcelo Rebelo de Sousa que encara as pressões dos políticos sobre a comunicação social como uma quase inevitabilidade.

De acordo com o ex-líder do PSD, o facto de ter escolhido “um órgão teoricamente visto da parte da opinião pública como mais pressionável politicamente” funciona como um “teste da barata”. Na apresentação do livro “Boa Noite, Professor”, no curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Universidade do Porto, Marcelo disse gostar de estar “com os que estão na situação mais difícil”, dado que sempre preferiu “arrancar de expectativas muito baixas”.

Sobre a transição para o canal público, o comentador nega qualquer tipo de oportunismo político: “Há muitas pessoas que discutem ‘Ele está a fazer o comentário para ver se lá chega, liquida uns, encosta outros, apoia outros, aquilo é tudo um jogo’. Não! Antes de intervir politicamente, fazia comentário. Sou em primeira linha um professor, em segunda linha um comentador político e em terceira linha um político”, declarou Marcelo.

Nesse sentido, Marcelo admite ter feito comentários que não teria realizado se tivesse ambições políticas. “Achei que aquilo era tão evidente que era uma ofensa à minha inteligência fingir que aquilo não se passava. Era mais cómodo falar nos xiitas no Iraque do que falar dos xiitas cá dentro”, acrescentou o comentador. No entanto, o professor não deixou de estar ao lado do PSD nas eleições: “Voto clubisticamente, tenho família e voto pela família sempre, mesmo quando a família tem uns membros um pouco sui-generis”.

Ainda sobre as circunstâncias que marcaram o abandono do “Jornal Nacional”, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou: “Na comunicação social há dois tipos de políticos: os que não são sensíveis ao que diz a comunicação social (que são pouquíssimos) e os que são hipersensíveis. É maior o incómodo para os administradores e para o director-geral do que para os jornalistas que não chegam a ter a noção directa ou imediata da sensibilidade.”

José Carlos Castro, também presente na conferência, apontou a concentração dos “media” como um perigo e não escondeu a sua posição sobre o “caso Marcelo”: “Estou na estação há onze anos e essa pressão que se fala [sobre a saída de Marcelo] foi mais ou menos evidente, mais ou menos encapotada; sente-se e basta ver o que é que aconteceu depois da saída do professor em termos da relação entre a PT Comunicações e a TVI. Mais não posso dizer”.

Carina Branco
João Pedro Barros