Como é que o Quinteto Tati tem passado na época dos downloads?

Eu nunca fui propriamente um tipo que ganhasse dinheiro para comprar uma quinta em Azeitão, como as associações que exploram os direitos dos autores. Há dois ou três tipos que mandam nisto, que são os tipos das quintas, os latifundiários culturais, e o resto apanha um bocado as migalhas. Não há controlo, a SPA [Sociedade Portuguesa de Autores], como quase todas as associações do país, é perfilhada pelos seus presidentes, transformando-se em empresas familiares.
As editoras já não fazem muito sentido, agora podemos fazer um disco quando quisermos, em casa, no computador. Há um certo orgulho em chegares à Internet e veres que fizeram download do teu disco. Eu aplaudo isto porque é uma forma de mostrar vontade de mudança em relação à falta de respeito das editoras pelos artistas.

Qual é essa mudança?

Muitas editoras já estão a preparar-se para que o suporte de defesa das autorias seja feito por via digital. Chegas a uma loja, metes a tua canetinha numa maquineta e escolhes tema a tema os que queres levar e fazes os CD que quiseres em casa. A maior parte das editoras é constituída por dinossauros obsoletos. Até podemos estar a fazer música medieval mas é importante estarmos esclarecidos sobre a forma como a música é reproduzida e como são defendidos os nossos interesses. Não estou nada preocupado com isso. Mais tarde ou mais cedo, terá que se legislar. As pessoas roubam durante algum tempo, depois, para não parecer mal, volta-se a legislar.

Não sentes uma certa pena romântica dessas mudanças nos suportes?

Esses suportes não vão deixar de existir, exactamente pelo romantismo. Quando acabaram os vinis, tu reparavas no que era fazer uma capa para um disco, que era quase uma tela. Depois chegou aquela coisa pequenina, descaracterizada, que é um CD. Muito friamente, o que interessa é que tu vais ter a liberdade de pôr a música no suporte que quiseres. Pela via informática, até podes ter acesso a capas alternativas. Mas a indústria dos suportes físicos, o CD, vai continuar a existir. Esse comércio deixa de ser central e passa a ser um comércio periférico, romântico. Há uns anos, o vinil reapareceu em força, precisamente por causa do romantismo.

Carlos Luís Ramalhão