“O 11 de Março mudou uma sensação de relativa tranquilidade de quem pensava que o terrorismo da Al-Qaeda teria como alvo principal os Estados Unidos”. De acordo com José Azeredo Lopes, professor universitário e especialista em assuntos internacionais, foi esta a principal consequência do atentado ocorrido há um ano atrás. “No plano europeu, existia uma inércia e uma tranquilidade que impediu, por exemplo, uma maior cooperação do ponto de vista judiciário e policial”, refere. Azeredo Lopes participa hoje num debate sobre terrorismo, no Palácio da Bolsa.

O que também se alterou foi o quadro político das alianças a nível mundial. De acordo com Azeredo Lopes, antes do 11 de Março “qualquer Estado que retirasse do Iraque era uma espécie de Estado traidor que colocava em causa a luta contra o terrorismo”. Mas a alteração da política externa espanhola, com Zapatero, veio provar que é possível lutar contra o terrorismo sem “intervenções de duvidosa legalidade, cumprindo o direito internacional e reforçando a dimensão multilateral e cooperação”.

“A política externa americana seguia até ao 11 de Março a máxima ‘Quem não está totalmente do meu lado está necessariamente contra mim’”, arriscando-se a “alienar um espaço de aliança fortíssimo como é a Europa”. Azeredo Lopes pensa que a política externa norte-americana reflectiu o caso espanhol, que provou que “com uma base político-diplomática mínima é possível conseguir melhores resultados do que lutando nas ruas de Bagdad“. O 11 de Março desencadeou um “efeito bola de neve, que levou mais para o plano da política internacional o combate que não pode ser exercido apenas pela força militar”, afirma.

No entanto, o investigador pensa que o efeito do 11 de Março “não desencadeou uma reacção tão forte como a que o 11 de Setembro desencadeou no povo americano”. “O ‘marketing visual’ do terror do 11 de Março foi menor”, afirma, relembrando que “a Europa tem mais familiaridade com o terrorismo”.

E o que esperar do futuro em termos de terrorismo, na Europa? Azeredo Lopes não quer fazer grandes previsões, mas pensa que “do ponto de vista da razoabilidade, é mais ou menos inevitável que um novo ataque terrorista venha a ter expressão no continente europeu”. Mas a opção é entre “viver numa fortaleza autoritária” ou “continuar a achar que o nosso modelo de vida e sociedade deve ser defendido a todo o custo, mesmo com um pouco menos de segurança”.

Considerando que no plano europeu a resposta é “mais animadora” do que nos Estados Unidos, Azeredo Lopes pensa que se pode “perder aquilo que tanto tempo demorou a construir: o Estado de Direito, a Europa como espaço de liberdade e direitos fundamentais”.

Juntamente com Azeredo Lopes, também o padre José Maria Cabral Ferreira e o jornalista Ramón Font estarão presentes no debate agendado para hoje à noite, às 22 horas. O evento, promovido pela Associação Comercial do Porto, contempla ainda um concerto de homenagem às vítimas do 11 de Março.

João Pedro Barros