Não se construíram para eles inúmeros estádios. Não enchem estádios como o futebol, nem provocam a loucura momentânea dos seus adeptos como o fazem os ídolos dos mais novos quando tocam a bola. São discretos, não ganham milhões e vivem numa realidade diferente da dos outros atletas. Não têm algo que para os outros é inato, querem ter algo que nunca foi deles. Sem ou quase nenhuns apoios do Estado, dividem-se entre o trabalho necessário e o desporto que lhes dá uma razão de vida. Os atletas deficientes são campeões em “part-time”.

A escassez de apoios torna-os ainda mais diferentes dos restantes atletas e modalidades desportivas. É factual a desigualdade distinta que existe entre a abundância de capital financeiro entre modalidades como o futebol e as várias modalidades paralímpicas. Atletas, dirigentes e treinadores para além da competição desportiva, têm de lutar fora do campo pelo reconhecimento e pelo apoio financeiro que de tão necessário sempre tarda e nunca é suficiente.

Escassez de apoios não cobra a vontade

“De uma forma ou de outra vamos fazendo os possíveis para apoiar estes atletas, em termos de treino, equipamento, apoio psicológico, em tudo”, afirma António Oliveira, treinador do medalha de prata da ultima meia maratona, o atleta António Mariz.

Na última prova europeia de meia maratona, o pódio foi conquistado por três portugueses. António Mariz, atleta da delegação de Coimbra da Associação Portuguesa dos Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM), ficou classificado em segundo lugar. Apesar do brio e qualidade dos atletas, “ninguém quer saber. Não ligam a estes atletas e não os apoiam, afirma o atleta”.

Atletas de alta competição e trabalhadores das obras

Estes atletas são um pouco de ambas as coisas. Atletas por vocação e gosto e trabalhadores das obras por obrigação. “O António Mariz anda nas obras”, refere António Oliveira. Tanto os atletas como os treinadores têm outra profissão. Trabalham todo o dia e treinam ao fim do dia.

O treinador refere que a necessidade de uma actividade profissional paralela, devido à escassez de apoios financeiros, resulta na diminuição da rentabilidade desportiva dos atletas e considera ser imprescindível a acção governamental desbloqueando os apoios que cessaram e motivando o sector empresarial para apoiar os atletas deficientes.

Contactado pelo JPN, o presidente do Instituto de Desporto de Portugal , José Constantino, escusou-se a fazer quaisquer comentários por considerar que esta não é “matéria que caiba nas competências do IDP comentar”.

Pedro Sales Dias