A apropriação de uma subcultura pelo “mainstream” passou sempre por um processo difícil de imposição e de afirmação. Um processo doloroso que muitas vezes bloqueia a existência de novas tendências. Tendencialmente relegadas para um submundo muito próprio, as subculturas encontram hoje na Internet um espaço privilegiado e aberto, um refúgio que, paradoxalmente, é uma ligação contínua com o mundo, permanentemente, 24 horas por dia, 365 dias por ano. É a boca do altifalante de quem quer que seja, uma terra de ninguém.
Uma Internet à espera de ser desbravada, com o único intuito de ser povoada. É assim o ideal em forma de janela sob o mundo.

São editoras que não ocupam espaço físico nem produzem obras com suporte físico. O advento da Internet, e particularmente do formato mp3, ameaça a indústria fonográfica, mas abre portas à criação de estruturas editoriais que funcionam na rede, de forma gratuita. Chamam-se “netlabels” e são milhares em todo o mundo. Baseiam-se em sites que disponibilizam espaço gratuito à comunidade, e nas licenças Creative Commons, que regulamentam o livre acesso à música.

Em Portugal, há já várias netlabels que têm vários álbuns online e que revelam uma actividade de renovação permanente com muitas novidades a despontar. A cena portuguesa começou a emergir nos últimos dois anos e já conta com cinco netlabels: Test Tube, MiMi Records, EnoughRecords, Merzbau e a You Are Not Stealing Records. Umas mais conhecidas do que outras, umas com mais oferta que outras, mas todas partilhando da mesma filosofia: um universo alternativo às editoras tradicionais, pontilhado por sonoridades que fogem ao gosto “mainstream” numa visão da música enquanto direito.

Mariana Teixeira Santos