Depois do cancelamento do "Programa da Maria", Rueff diz-se pronta para outra proposta, desde que ligada a um "humor mais alternativo".

A comédia é o terreno em que se sente mais à vontade. Quais são as principais técnicas para se fazer comédia?
A principal técnica é o ritmo, as respirações e a forma de atacar as piadas. É preciso refrescá-las, de forma a parecer que é a primeira vez. Daí também a importância da espontaneidade e sobretudo da seriedade. É também nesse lado sério, de dar corpo e concentração à graça, que reside a eficácia da comédia.
A comédia é estar uma hora e meia a mandar fogo de artifício e implica uma maior força anímica. É como correr os cem metros. É uma coisa rápida. É uma explosão, mas é também uma coisa natural.

Herman José e as Produções Fictícias já escreveram para si inúmeras personagens. Tem alguma que goste mais de fazer, que seja mais aliciante?
Tenho um carinho pelas minhas personagens mais fixas e mais conhecidas, como tenho por um animal de estimação. O meu gosto é todos os domingos procurar fazer uma coisa diferente. Entre tantos bonecos é quase humanamente impossível inventar um sotaque, um trejeito…

Quando a Maria prepara as personagens acha que está sobre o “efeito de esponja”?
Na criação sim. A observação é muito importante. Muitas vezes absorvemos coisas que pensamos que não servem para nada, mas vamos muitas vezes à base de dados buscar alguma coisa para uma personagem.

A Maria Rueff exterioriza muito nas suas personagens, mas quando toca a escrever retrai-se. Tem medo da escrita, tem respeito pela escrita?
Tenho muito respeito pela escrita e pelo lugar de cada um. Formei-me para ser actriz. Embora os cómicos tenham uma dose grande de improviso, passar daí à seriedade de ter uma folha em branco… Tenho andado a evitar atrever-me a assinar o quadro.

Sei que ficou triste com a televisão por terem cancelado o “Programa da Maria”. Já ultrapassou essa situação?
Obviamente que é uma nódoa negra que demora muito a passar porque põe em causa aquilo que sou enquanto actriz. É doloroso, mas agora já me sinto pronta para outra.

Aceitaria uma proposta para a SIC Comédia ou para a Radical?
Aceitava, continuando a perseguir as minhas ideias. Este tempo deu-me para reflectir e acho que, embora tenha falhado em muitos aspectos no “Programa da Maria”, há coisas de que não abriria mão: ter actores formados comigo, ter um humor mais alternativo e estar rodeada de uma equipa muito boa.

Luís Florindo