São uma nova aposta na música nacional. Ao mesmo tempo que inovam, os Donna Maria, trio composto por Marisa Pinto, Miguel Majer e Ricardo Santos, vão buscar a tradição da música portuguesa ao fado e a nomes como Paulo de Carvalho ou Vitorino. Assumem-se como parte de uma cultura com passado. E conquistam pela música e pela simpatia. Conversámos com eles durante uma curta passagem pelo Porto.

Qual é a vossa história? Como é que vocês se conheceram?

Marisa: Eu e o Miguel tínhamos trabalhado juntos num programa da RTP, “Os Principais”. Na altura, a ideia foi a de fazer uma banda de versões, depois começámos a fazer experiências com electrónica e música portuguesa e percebemos que isso era o que nos unia. Daí partimos para os Donna Maria.

Vocês mantêm o projecto de versões, os XL Femme, mesmo agora com os Donna Maria…

Miguel: Nós temos uma banda de versões porque é um grande gozo desconstruir as músicas e construí-las de novo, à nossa maneira. Às vezes, quando estamos a trabalhar uma música nossa, como estamos tão habituados a trabalhar as “covers”, até nos esquecemos de que ela é nossa, o que é engraçado… Neste momento, o que já acontece é que, com a banda de versões, não temos tantas possibilidades de tocar.

Na canção “Pão para a multidão”, têm aquilo que parece ser um diálogo de rua. Na faixa seguinte, “Sem marcha atrás”, podem ouvir-se sons de rua. Vocês são uma banda que escreve sobre o quotidiano assumidamente urbano?

Miguel: O nosso olhar é, de certa forma, contemporâneo e urbano porque nós os três moramos em Lisboa, mas é um olhar urbano sobre a tradição. Na “Pão para a multidão”, esse diálogo refere-se a um senhor que costuma estar nas ruas de Lisboa e que, quando os carros passam, acena às pessoas, dizendo adeus. Ele representa características que Lisboa perdeu, de há uns anos para cá, em relação ao Porto, por exemplo. Escrevemos coisas desse tipo, outras são mais da Marisa.

O vosso disco é muito participado. O que é que significam para vocês os nomes de Paulo de Carvalho ou de Vitorino?

Marisa: Significam muito. Nós resolvemos ter bastante gente no disco porque já na nossa banda de versões, os XL Femme, estávamos habituados a chamar mais pessoas para o palco. Deu-nos sempre muito prazer partilhar as emoções com outras pessoas. Quando fomos gravar, passámos essa vontade para estúdio. Por exemplo, na “Quase perfeito”, quando o Miguel a ouviu, achou que a voz do Paulo de Carvalho ficava mesmo bem ali, com a minha.

Miguel: Acho que isso confunde muita gente, o facto de pormos referências da música ligeira como o Paulo… Há aqui uma atitude nossa de pôr em causa alguns rótulos em relação ao que é moderno e ao que não é moderno. Também conseguimos assim fazer com que muita gente que não ouve os discos do Vitorino tome contacto com ele.

Marisa: E assim, até os podem ouvir noutra perspectiva, a cantar por cima de electrónica, como aconteceu com o Vitorino, que se sentiu como peixe na água.

Carlos Luís Ramalhão