Como é que está a correr a passagem da “Rainha do Ferro Velho no Porto”?

Muito bem! Sabemos que noutras produções estrangeiras que estão a ser feitas cá no Porto o público não tem estado tão presente, mas na “Rainha do Ferro Velho” tem estado todos os dias.
Atendendo a que ultimamente no Porto não é costume haver espectáculos à terça e à quarta, estávamos um pouco inquietos com a possibilidade de não virmos a ter público, mas afinal o público do Norte, como sempre, recebe-nos de braços abertos!
As pessoas aderem ao espectáculo muito bem até de uma outra forma comparativamente com o público de Lisboa. Parece que aqui as pessoas são mais atentas, entendem melhor nas entrelinhas a dualidade do texto… Está a ser fantástico. E sempre disse que as pessoas aqui do Norte são muito mais carinhosas, mais quentes! Falam connosco como se fôssemos da família. É incrível!

Gostaria de trazer mais peças de teatro aqui para o Porto?

Acho que é fundamental. E depois de vermos este teatro, esta pérola que está tão maltratada, é um crime deixar este teatro apodrecer! Já que o público anda tão sedento de bons espectáculos, porquê deixar morrer esta sala que tem tantas tradições?
As pessoas vêm-me perguntar na rua se li nos jornais que o Filipe La Féria viria ou não tomar conta do Sá da Bandeira… Não sei, mas eu gostaria. Pelo menos era uma forma de manter o teatro vivo, porque nota-se que as pessoas querem ver espectáculos. A nossa televisão está pela “hora da morte” e o teatro é mesmo “a arte”.

Depois de nove mil pessoas já terem visto a “Rainha do Ferro Velho”, há ainda algum nervoso miudinho antes de entrar em cena?

Muito “nervoso miudinho”! Principalmente porque todas as noites temos pessoas diferentes sentadas na plateia e nunca sabemos de que forma irão reagir à mensagem que queremos transmitir. Ainda há bocado estava a comentar com a Maria João, o José Raposo e a Lurdes Norberto que às tantas não desfrutamos, não conseguimos tirar o prazer do que é estar no palco para dar lugar ao medo, ao pavor de falhar, de desiludir…
Isso às vezes acaba por nos massacrar muito interiormente porque temos sempre medo de desiludir as pessoas que acreditam em nós. Portanto, o “nervoso” é sempre uma permanente na nossa profissão. Mas depois vale a pena, quando ouvimos esta sala cheia a divertir-se, a rir, a chorar… É fantástico!

Que convite faz a quem ainda não viu a peça?

Eu acho que esta é uma peça que tem todos os ingredientes para se tornar num grande espectáculo. Primeiro é um espectáculo com a marca do Filipe La Féria que só por si é uma garantia de qualidade. Depois, tem um elenco de notáveis actores. O próprio texto – que foi escrito nos anos quarenta e que retrata a época dos anos cinquenta – ainda tem muito em comum, infelizmente, com o que se passa hoje em dia na sociedade e na nossa vida.

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Então com tanto sucesso, até quando poderemos ter cá a “Rainha do Ferro Velho?”
O Filipe diz e eu digo também: Enquanto o público tiver do nosso lado… Sem público, quer queiramos quer não, não há nenhuma forma de arte. É para o público que trabalhamos e portanto, enquanto o público vier ao Sá da Bandeira, vamos continuar aqui.

Diana Fontes
Hugo Manuel Correia