Com a experiência que tem, como é que é regressar ao palco do Sá da Bandeira?

No Sá da Bandeira, só fiz uma peça que foi o “Soldado Schveik” que tínhamos feito no Teatro Maria Matos. Portanto, não tenho um amor especial pelo Sá da Bandeira embora ache que é uma casa que merece todo o nosso respeito e toda a nossa estima. Mas na verdade estou habituada a trabalhar no São João. Gosto muito de trabalhar no São João. O Teatro Sá da Bandeira calhou agora, mas está na verdade um bocadinho estragado, e custa estar assim, sem aquela comodidade que é normal para que uma pessoa se sinta bem.

Qual é a mensagem que gostaria de transmitir para os jovens actores cá do Porto?

Não se é actor por ser actor. É-se actor porque se sente ou porque se nasceu com talento. Não é só porque se vai ali à televisão e se faz qualquer coisa que a pessoa pode dizer que “já é actriz”. Não é verdade. É como se me mandassem fazer jornalismo. Eu não tenho jeito para fazer jornalismo. Tem que se estudar, tem que se aprender. Teria que ter jeito para ser jornalista e quer-me parecer que não é esse o meu caso. Portanto, é como outra profissão qualquer. As pessoas têm que a construir. Têm de ter o mínimo de talento para lá chegarem.

O teatro é a melhor escola para um actor?

Eu por acaso não tenho curso do conservatório. Aprendi tudo o que sei no teatro. Tive a oportunidade fantástica de entrar aos nove anos para o teatro e ter tido uns mestres fabulosos que hoje em dia até já nem há! De maneira que foi no teatro que aprendi tudo.
Agora há escolas e as pessoas devem aprender, porque a escola também traz aspectos que o teatro não oferece e que as pessoas deveriam saber para a sua vida e para estarem melhor, para o actor não saiba apenas representar.

A televisão exerce um fascínio maior do que o teatro?

Eu por acaso penso que toda a gente quer ser actriz de teatro. Estão a fazer televisão e dizem “agora quero ir fazer teatro!”. Toda a gente quer ir fazer teatro. Os manequins querem fazer teatro…

O teatro acaba por dar um certo prestígio…

Naturalmente acham que o teatro dá prestígio. Mas o teatro só pode dar prestígio se as pessoas souberem fazer teatro e comunicarem para o público aquilo que têm dentro deles e da personagem que estão a fazer.

Mas então o que podem os jovens fazer para abraçar o teatro?

Para já tem de haver alguém que ensine quando a pessoa está em cima do palco. Isso é importante porque isto aprende-se. Isto tem uma técnica. Há uma maneira de estar, de saber como se chora, como se ri – saber interpretar um personagem.
Para isso tem que haver um encenador. Acho que não se deve fazer nada sem pelo menos ouvirmos aquilo que o encenador tem na cabeça. Depois podemos estar de acordo ou não estar. Mas é preciso já ter uma certa experiência para discordar com o que diz o encenador.

No Porto, a “Rainha do Ferro Velho” está a ir pelo mesmo caminho de sucesso como em Lisboa. Até quando a Lurdes Norberto gostaria de estar neste palco?

Quando isto acabar, acabou. A idade também pesa… Eu já estou há muito tempo a trabalhar em teatro. Reparem que já tenho setenta anos e já faço teatro desde os nove. Fiz o curso do liceu, mas fazendo sempre teatro ao mesmo tempo, de maneira que agora já me apetece descansar um bocadinho.

Diana Fontes
Hugo Manuel Correia