A indefinição quanto ao local de saída da obra arrasta-se há dez anos.

Desde a sua programação, em 1995, pelo Executivo de Fernando Gomes, até ao dia de hoje, o Túnel de Ceuta conheceu inúmeros avanços e recuos, propostas e contra-propostas, numa batalha que envolve, entre outros, a Câmara Municipal do Porto (CMP), a administração do Hospital de Santo António e o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR).

A proposta inicial para a saída do túnel seria em frente ao Instituto de Medicina Legal, do lado direito do Jardim do Carregal, chumbada em 1996 pelo IPPAR, afirmando que se encontrava muito próximo, não só do jardim, mas também do Hospital de Santo António.

Já durante o executivo de Nuno Cardoso, a CMP, começou a escavar a entrada do túnel em frente ao Hotel Infante de Sagres e a saída num local ainda mais próximo do hospital (à porta do serviço de urgências). A obra acabou por ser suspensa devido a dificuldades de escavação e a falta de cobertura financeira.

Em 2002, no início do mandato do actual presidente da CMP, Rui Rio, e um ano depois da Porto 2001, a obra encontrava-se num impasse. Para além de ter sido chumbada pelo IPPAR, não recolhia a aprovação do Hospital de Santo António, uma vez que a saída se encontrava mesmo à porta das urgências, numa rampa com demasiada inclinação e terminando em cima de um cruzamento.

Sem luz ao fundo do túnel

A solução proposta pela autarquia e pela empresa municipal Gestão de Obras Públicas (GOP) passava por fazer recuar ao máximo o túnel (terminaria logo no início da Rua D. Manuel II) e afastá-lo do Museu Soares dos Reis, dado este ser considerado património arquitectónico e urbanístico. A saída no centro da via passaria para a direita, possibilitando o recuo dos muretes, o aumento da largura do passeio e o acesso ao edifício, nomeadamente dos transportes públicos. No entanto, o IPPAR voltou a rejeitar o projecto usando como argumentos o “stresse, as vibrações e o trânsito”.

Uma outra hipótese apresentada pelo IPPAR consistiria em empurrar a saída do túnel para depois da Rua Adolfo Casais Monteiro (mais 120 metros), à porta da reitoria da Universidade do Porto (cerca de 190 metros mais) que, no entanto, acarretaria um aumento considerável dos custos (cerca de 2,5 milhões de euros) e obrigaria à redução de uma faixa de rodagem, dificultando a circulação do trânsito, nomeadamente das ambulâncias que se dirigissem ao hospital. Perante estas condicionantes, o IPPAR volta atrás e propõe o término do túnel imediatamente antes da Rua Adolfo Casais Monteiro.

Esta eventual solução foi considerada inviável pelo GOP, já que a obra custaria mais 3,5 a quatro milhões de euros e arrastar-se-ia de 15 a 18 meses, implicando uma série de problemas técnicos, entre os quais a construção de uma rampa de saída demasiado íngreme, que implicaria a redução da largura tanto das vias de rodagem, como dos passeios. Para além disso, o prolongamento do túnel implicaria a necessidade de criar um percurso mais longo de acesso às urgências do Hospital de Santo António e à Maternidade Júlio Dinis, a remoção dos semáforos e a inversão do sentido do trânsito na Rua Adolfo Casais Monteiro. Recorde-se que devido ao impasse a obra se encontra parada desde 23 de Março por ordem da ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima.

Na passada segunda-feira, deu-se o mais recente “capítulo” desta história: Rui Rio apresentou ao Ministério da Cultura uma proposta para que a saída do túnel seja construída do lado direito do início da Rua D. Manuel II, tal como estava projectado, comprometendo-se a CMP a “aceitar todos os arranjos urbanísticos que o Ministério quiser impor”. No entanto, o Ministério da Cultura rejeitou a proposta, considerando-a igual à anteriormente proposta pela autarquia, que já tinha sido rejeitada pelo IPPAR.

Daniel Brandão