O “hooliganismo” radica, “não tanto no futebol, mas em outros problemas de cariz social e cultural”, diz o antropólogo Daniel Seabra. As diferentes militâncias políticas de cada claque são uma das principais causas para o fenómeno da proliferação de confrontos, apontando o exemplo caricato do presidente da Federação Inglesa de Futebol que terá dito à primeira-ministra britânica da altura, Margaret Thatcher para tirar “os seus ‘hooligans’ dos nossos estádios”.

Em Itália, no seguimento do Maio de 1968, época de grande contestação juvenil, “o contexto social e político era bastante conflituoso e desenvolveram-se nessa fase pequenos partidos de cariz extremista com grande grau de militância”, sendo que “os modelos organizativos [dos partidos] foram, de certa forma transportados para os estádios de futebol no apoio à equipa “, contribuindo também para isso o facto de “determinados clubes de futebol sempre terem sido bastante associados ou à direita ou à esquerda”, afirma o especialista.

Assim, a rivalidade e a cisão entre dois clubes residentes na mesma cidade podem, em parte, ser explicadas pelas suas conotações políticas e, por conseguinte, de defesa de certos valores, como é o caso emblemático do AC Milan e do Inter (Milão). “O AC Milan sempre foi preferencialmente associado à esquerda, ao invés do Inter que esteve sempre mais associado à direita, aos valores conservadores, e mesmo clericais com alguma influência da Igreja”, revela.

Em relação a Portugal, Daniel Seabra diz que “existem membros de extrema-direita e defensores do racismo e da xenofobia”, um comportamento em tudo igual ao da claque da Lazio (assumidamente de extrema-direita, considerado na década de 40 como sendo o clube de Mussolini), com a qual os Super Dragões possuem uma relação de amizade.

No entanto, embora admita que existe a possibilidade de estes membros das claques poderem influenciar os adeptos mais jovens assegura que “não parece caso para alarme social” e explica, tomando como exemplo a claque apoiante do Futebol Clube do Porto: “se tivermos por base os cerca de 2 mil membros inscritos, apenas 1% ou 2% são defensores desses valores, o que é pouco significativo”, diz.

Prevenção para substituir a penalização

Daniel Seabra defende ainda que a lei deveria apostar mais na prevenção dos conflitos entre adeptos e não tanto na penalização. O antropólogo mostra-se adepto de uma série de medidas preventivas como forma de impedir a proliferação da violência nos estádios de futebol e, ao mesmo tempo, em todos os sectores da sociedade: a aposta numa “polícia especializada” e em “agentes à paisana infiltrados no meio do público” que, com uma rápida intervenção pudessem impedir o alastramento dos focos de conflituosidade, poupando, assim, danos aos espectadores que nada têm a ver com aquela claque.

Para além disso refere ainda a aplicação da “inibição de entrada nos estádios” desse tipo de adeptos e uma política de prevenção de fundo “ao nível das escolas e das próprias condições de vida dos cidadãos”.

Daniel Brandão