O ministro do Interior timorense, Rogério Lobato, afirmou esta manhã à agência Lusa que a hierarquia da Igreja Católica do país “está a orquestrar uma tentativa de golpe de Estado”. Este membro do Executivo de Timor garante que possui “informações segundo as quais [os representantes da Igreja] estão a preparar o assalto ao palácio do governo” e que “têm planos para paralisar a cidade”, avançando, desde já, que “a polícia recorrerá ao uso legítimo da força” se os manifestantes tentarem invadir o palácio do governo.

As declarações do ministro do Interior surgiram pouco depois de um comunicado da FRETILIN, divulgado esta madrugada pela mesma agência, em que o presidente do partido, Francisco “Lu-Olo” Guterres, acusou a hierarquia da Igreja Católica e elementos da oposição de estarem a criar um clima pré-insurreccional para o derrube do governo liderado por Mari Alkatiri.

“A FRETILIN rejeita o carácter profundamente político e de natureza pré-insurreccional da manifestação organizada por parte da hierarquia da Igreja Católica aliada a figuras conhecidas da oposição”, destaca o comunicado lido por “Lu-Olo”, que termina com um apelo a todos os quadros, militantes, simpatizantes do partido governamental “e todo o povo maubere” para que mantenham a “disciplina partidária e o nacionalismo da nação, evitando acções que possam por em causa a paz, estabilidade e a integridade nacional”.

A maior manifestação desde a independência

Durante o dia de ontem, milhares de pessoas manifestaram-se em Timor-Leste, naquela que terá sido uma das maiores manifestações registadas em Dili desde a independência de Timor-Leste (2002). A manifestação surgiu em resposta a um apelo lançado pela Igreja, contra o Executivo de Mari Alkatiri, nomeadamente contra a sua decisão de diminuir o peso curricular da cadeira de Educação Religiosa, passando a ser uma disciplina facultativa.

Carregando imagens de nossa Senhora, os manifestantes exigiram a demissão do primeiro-ministro, enquanto rezavam o terço e ouviam as palavras dos vários líderes religiosos que organizaram o protesto. O porta-voz da diocese de Dili já afirmou que as manifestações vão continuar até ao começo do diálogo com o Governo.

A ruptura entre a Igreja Católica e Governo timorense não é nova. A 21 de Fevereiro, uma primeira nota episcopal já criticava o projecto de Mari Alkatiri. Um mês depois, durante uma deslocação a Díli, o núncio apostólico, Malcom Raamjiph, encorajou os timorenses a “confrontarem os que tentam destruir a Igreja”. O Governo reagiu com um comunicado assinado pelo chefe da diplomacia timorense, José Ramos Horta, onde afirmava que o núncio apostólico estava a tecer “acusações belicosas” e a exercer “uma indesejável interferência nos assuntos internos de Timor-Leste”.

Começava então uma troca de acusações entre Igreja e Governo, que culminou com a manifestação de ontem, e cujos desenvolvimentos são ainda imprevisíveis.

Anabela Couto