Uma semana para promover a saúde mental e a discussão dos limites da própria normalidade e das mais elementares defesas humanas, reduzidas no caso de pessoas com uma saúde mental debilitada. É o objectivo da “Semana da Saúde Mental”, organizada pela Associação de Estudantes da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP).

“Vamos imaginar uma pessoa que tem um sonho perfeitamente irreal. Uma pessoa normal é capaz de lidar normalmente com isso. Uma pessoa com uma saúde mental debilitada é aquela que é capaz de fazer tudo o que for possível para realizar esse objectivo, indo contra tudo e todos”, explica Joaquim Ramos, psiquiatra e director do serviço de reabilitação do Hospital Magalhães Lemos.

A importância da reabilitação

Como observa Ana Ramos, da associação de estudantes e organizadora do evento, “a saúde mental é um tema cada vez mais presente” na sociedade. Uma presença que se materializou hoje na actuação do grupo de expressão Cénica do Serviço de Reabilitação do Hospital Magalhães Lemos e na tertúlia sobre “Promoção de Saúde Mental”, onde marcaram presença Joaquim Ramos e José Queirós.

Entretanto, Joaquim Ramos do Hospital Magalhães Lemos explica que a promoção da saúde mental passa “por estudar as causas dos problemas”. Enquanto os problemas persistem, a solução passa pela reabilitação. Joaquim Ramos é o responsável por um projecto de ateliers terapêuticos que “promovem o treino e a aquisição de competências sociais que, por causa da doença mental, os indivíduos possam ter perdido. [O objectivo] é dar hipótese a que as pessoas exprimam através da arte os seus sentimentos e expectativas”.

É nesta perspectiva terapêutica que surgiu há dez anos atrás o Grupo de Expressão Cénica do Serviço de Reabilitação do Magalhães Lemos. Um conceito que é, nas palavras do encenador João Pereira, “uma forma de interrelacionamento entre as pessoas, num universo onde o isolamento e o medo tendem a persistir”. Contudo, as vitórias ao longo dos anos têm sido muitas: “Tinha utentes que tinham medo de entrar em cafés porque sentiam que toda a gente estava a olhar para eles. Quando colocámos esse utente a actuar perante uma plateia, a enfrentar o olhar dos outros, é uma experiência única para a vida e para a própria auto-estima deles”.

O dia de hoje acabou em tertúlia na FPCEUP. A exposição de máscaras de cerâmica elaboradas no serviço de reabilitação Magalhães Lemos permanece até sexta-feira.

Mariana Teixeira Santos