Há alguns anos, pouca gente acreditava que as botas da cantora de “These boots are made for walking” continuassem a caminhar no mundo da música. A carreira de Nancy pouco tinha avançado depois dos mega-êxitos que a celebrizaram na década de sessenta, como o acima citado “These boots…” ou “Something Stupid”, dueto com o seu pai, Frank Sinatra, mais conhecido por “The Voice”. Contudo, o ano passado viu surgir uma réstea de esperança para os admiradores da miúda “yeah yeah” da música do século XX. O novo álbum, homónimo, com as colaborações de peso de Jarvis Cocker, Morrissey ou Jon Spencer, acabou por ser bem acolhido pela crítica, apesar de algumas acusações de estar a usar os nomes prestigiados dos colaboradores para regressar ao mundo dos musicalmente vivos.

É uma mulher mais madura, possuidora ainda de uma surpreendente sensualidade para quem já passou dos sessenta (mas que há pouco mais de dez anos ainda posava para a Playboy), que vai pisar hoje o palco da Casa da Música. As famosas botas prometem não faltar ao ritual revivalista da mulher que continua a ser amada por gente tão diversa como Madonna, Kelly Osbourne, Quentin Tarantino ou os Sonic Youth.

Há um lado “kitsch” sedutor que inegavelmente atrai para Nancy Sinatra, uma forma de estar mais do que a voz que fraqueja ou as canções que, diga-se, nunca foi capaz de criar, acabando sempre por ter que recorrer a génios como Bob Dylan, no passado, ou Morrissey, no presente. Por isso, mais do que um concerto, espera-se, esta noite, uma concentração de brilho que vale a pena ver. E ouvir também.

Richard Hawley na primeira parte

A primeira parte do concerto de Nancy Sinatra será feita por Richard Hawley, guitarrista inglês da extinta banda de “britpop”, Longpigs, e que se lançou numa carreira a solo, depois de também ter acompanhado os Pulp durante algum tempo. De Hawley, espera-se uma contribuição para a noite revivalista, já que o músico toca um rock com uma sonoridade antiga, na onda saudosista de início do século XXI.

Carlos Luís Ramalhão