A discussão da Europa e do seu destino passou hoje, terça-feira, pela Faculdade de Medicina do Porto (FMUP). O livro “Ce Monde Qui Vient” de Alain Minc esteve em debate nos “Encontros com os Livros”, na Aula Magna da FMUP. Emílio Rui Vilar, presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian, foi o convidado que apresentou a obra do autor francês que tem merecido um forte destaque no panorama editorial gaulês.

Emílio Rui Vilar diz que Minc considera que estamos a olhar para os Estados Unidos “com os olhos de ontem” sem compreendermos que estamos perante um “outro país”. A tendência é de crescimento das elites asiáticas e hispânicas naquele país. A herança europeia que marcou durante os últimos séculos os EUA vai ser substituida pelos laços que as novas elites hão-de estabelecer com os contextos asiáticos, principalmente a China e a Índia, e a América Latina.

“Quanto às relações transatlânticas, a Europa será para os EUA um assunto praticamente inexistente, que desapareceu com a queda do comunismo, e entre o país e o mundo e a velha Europa, as divergências e as indiferenças apenas irão aumentar”, explica Emílio Rui Vilar.

Numa época de redifinições, em que a Europa se prepara para assumir a sua própria Constituição, o eixo transatlântico é cada vez mais um ténue reflexo do passado. O verdadeiro desafio europeu passa actualmente pela descoberta da sua própria fórmula de liberdade. “Segundo Minc, se a Europa se asumir, sem preconceitos, como um ‘OVNI institucional’ (a UE, segundo Jacques Delors, é um ‘objecto institucional não identificado’) fora da lógica da federação e da confederação, e viver como uma organização em sintonia com a época da cibernética e da complexidade, conseguirá ultrapassar as suas frustrações e sentimentos de inferioridade e encontrar um novo desígnio”, explica o administador da Gulbenkian.

Na sua obra “Ce Monde Qui Vient”, Alain Minc explica que a única solução institucional para o alargamento e desejável aprofundamento da UE passa por um “eurocoeur”, que possa comprometer todos os membros a participar em todas as cooperações . “Minc explica que o ‘eurocouer’ teria três grandes vantagens: manter o motor da construção europeia, não criar hierarquias entre as sucessivas adesões e tornar a adesão da Turquia suportável”, diz Vilar.

O discurso de Minc passa pelo reforço da UE que deverá, idealmente, agir a uma só voz. Uma voz que deve servir de contraponto a uns Estados Unidos que, fruto da sua diversidade social e da força do monopólio que adquiriram na formação das elites do planeta, tem oito das dez melhores universidades mundiais.

“Universidades dignas dos melhores ‘campus’ americanos; créditos consagrados à tecnologia, de preferência às subvenções agrícolas; políticas de encomendas públicas bem ajustadas; uma vaga de consolidação financeira transfronteiriça e um reequilíbrio mínimo a favor do trabalho, da produção e da concorrência”. São estas algumas das recomendações de Alain Minc para a UE ultrapassar a actual situação de inferioridade face aos Estados Unidos.

A obra, que durante uma hora, Emílio Rui Vaz apresentou à plateia reunida na Aula Magna da FMUP, assume-se, essencialmente, como uma referência para ultrapassar a actual situação de inércia da UE.

Para além de “Ce Monde Qui Vient”, Alain Minc, é também o autor de obras como “O Choque dos Media” e “Em Nome da Lei” e tem merecido um forte destaque no panorama editorial francês. Ligado ao “Le Monde”, Alain Minc é um nome importante dentro dos ensaístas político-económicos. Sendo um produto típico do “establishment” francês, é um inconformista e um combatente contra o politicamente correcto.

Mariana Teixeira Santos