Rosental Calmon Alves diz que o jornal como o conhecemos pode vir a morrer, mas os publicitários ainda não reconhecem o poder da Internet.

Os Estados Unidos são pioneiros no ciberjornalismo. Em que estado de desenvolvimento está a Europa no domínio do ciberjornalismo?

Os Estados Unidos são um grande laboratório de “media”. No século XX, a cada 20 anos, um novo meio foi criado, testado, comercializado nos Estados Unidos, e depois foi para o resto do mundo.
A “web” foi inventada na Europa sem nenhum sentido comercial, mas com um sentido completamente altruísta. O que estou a tentar dizer é que os EUA, primeiro, têm um mercado enorme, e segundo têm um sentido empresarial e empreendedor muito forte e, por isso, os meios são muito desenvolvidos lá.
Mas acho que a Europa não está atrás. Todo o mundo está na mesma busca. Por exemplo, a infografia animada da Espanha é melhor do que a dos EUA. Muitos dos projectos multimédia do Le Monde, são melhores do que qualquer um dos jornais norte-americanos. O mais interessante da Internet é essa disseminação, a queda das barreiras geográficas. Está toda a gente a aprender com todos.

Qual é o espaço dos meios tradicionais no mundo actual?

O espaço é muito grande. Eles são dominantes ainda. A Internet não enterrou os “media” tradicionais. Eles continuam sob uma ameaça muito grande oferecida pela Internet. É uma transformação monumental que o mundo está a passar e que afecta todas as actividades económicas. Os “media” estão a sofrer as consequências disso. Creio que algumas empresas entendem e outras não. As que entendem vão sobreviver e as que não entendem vão morrer. Talvez alguns meios se venham a tornar obsoletos.

Quais?

O jornal. O jornal iniciou um processo de diminuição do seu tamanho. Não é a primeira vez que isto acontece, já tinha acontecido antes. Não significa que o jornal vá morrer imediatamente, mas também não significa que o jornal não vá morrer algum dia. A questão é que o computador ainda é um “hardware” muito difícil, ainda é uma interface muito difícil. O jornal é uma interface mais fácil. Mas o futuro não é com o que existe no presente – um dos grandes erros clássicos da futurologia é basear as previsões do futuro em realidades do presente -, o futuro é com coisas que não foram inventadas ainda.
Se quisermos imaginar um pouco desse futuro, o filme “Minority Report” dá muitas ideias: o jornal em papel electrónico que vai mudando a fotografia, a publicidade que é personalizada e se dirige a si. Acho que é nessa direcção que estamos a caminhar.

Considera que o futuro passa por apostar em publicidade na Internet mais do que nos meios tradicionais?

Absolutamente. A publicidade não é nenhum favor que o anunciante faz ao meio. A publicidade é um instrumento de venda de algum produto ou serviço. As pessoas estão cada vez mais na Internet, então os anunciantes vão acompanhar as pessoas. Acontece que, às vezes, eles são muito lentos – não só os anunciantes como os agentes de publicidade. A maioria dos jornais que eu conheço, por exemplo, que têm números disponíveis, têm mais leitores diariamente na Internet do que o número da tiragem do jornal naquele dia. Não é lógico que, estando as pessoas na Internet, os anunciantes não estejam.

Letícia Amorim