Rosental Calmon Alves considera que o futuro da rádio passa pela Internet, meio que rompe "com as barreiras que antes davam o privilégio a grupos económicos ou a governos".

O futuro da rádio está na Internet?

Trabalhei na rádio durante muitos anos. Rádio é companhia, intimidade, é coloquial. Acho que hoje há uma grande oportunidade para a rádio na Internet porque a grande audiência da Internet, jornalisticamente falando, é no horário de trabalho. Há muita gente que utiliza o computador como ferramenta de trabalho e o usa para saber notícias, por exemplo. Pode levar-se para esse novo meio uma companhia para quem está a trabalhar.
Vejo por isso um futuro aqui, mas não acho que isto signifique uma ameaça à existência da rádio aberta ou de satélite. Há muita coisa nova a acontecer com a rádio, além da rádio na “Web”. Uma das coisas mais importantes é o “podcast”, que é a possibilidade de se colocar ficheiros (e arquivos) sonoros na “web” que qualquer pessoa possa fazer “download”, para ouvir numa altura diferente.

O que pensa sobre o fenómeno da criação das rádios pessoais na Internet? Há aí algum tipo de descaracterização do que é a rádio?

Não acho que haja descaracterização. Pelo contrário, as pessoas têm o poder de ter a rádio. Antigamente, as pessoas tinham que ter uma licença para terem uma rádio, tinham que gastar uma fortuna em equipamento, contratar muita gente… Hoje pode fazer-se uma rádio para o próprio prazer, ou até televisão… O interessante da Internet é o romper com as barreiras que antes davam o privilégio a grupos económicos ou a governos para alcançar uma grande audiência. Hoje cada um pode criar sozinho a sua rádio, mesmo que seja só para a família ouvir. Mas, de repente, outras pessoas começam a conhecer.
O fenómeno do blogue é um fenómeno que aponta muito para o futuro. Se outras pessoas que fazem o mesmo se forem referenciando umas às outras, então, consegue-se criar uma comunidade. O mais interessante dessa comunidade é que ela não é geográfica, mas uma comunidade de interesses, diferente de qualquer rádio comercial. E desta maneira começam a descobrir-se pessoas no mundo, que começam a ouvir essa rádio e a mostrar também a sua. A Internet leva a uma outra dimensão do ‘media’ rádio.

Letícia Amorim