O último dia da Feira do Livro do Porto não registou a afluência de visitantes de anos anteriores. Por culpa do fim-de-semana prolongado, certamente, mas também da crise económica que afecta o bolso dos portugueses. As vendas, a meio da tarde, não eram animadoras. Para alguns livreiros o negócio correu razoavelmente. Outros dizem que tudo continua na mesma, recordando-se do ano passado que foi mau no número de vendas e visitas.

Para muitos editores, a edição de 2004 foi a pior desde que a Feira se transferiu para o Pavilhão Rosa Mota, já lá vão dez anos. Por causa disso, o certame abriu este ano num clima de baixas expectativas, mas com a esperança que o que aconteceu na edição anterior não se repetisse.

A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) afirma que a edição deste ano foi a melhor dos últimos anos. Segundo Carlos Beirão, da APEL, o evento “correu muito bem”, tendo “80% dos editores subido as vendas”.

Carlos Beirão justifica o “sucesso” do certame com “uma maior divulgação e publicidade, por exemplo, nos transportes públicos”. O responsável da APEL refere, também, que as estações de televisão deram maior importância ao acontecimento. “Este ano não tiveram o Euro [2004] nem o Rock in Rio”, diz. Outro ponto forte da edição deste ano foi, para Beirão, o programa cultural.

João Fontes, responsável na Feira do Livro pela Europa-América, não partilha da opinião da APEL. Segundo o livreiro, as vendas “não estão melhores [este ano] do que no ano passado”. Bastante crítico, Fontes acusa a APEL de mentir quando afirma que houve mais gente do que o ano passado. “Não sei como fizeram esses cálculos. Mentem de certeza”, acusa.

O livreiro vai mais longe, afirmando que a APEL manipula a comunicação social. “Eles levam as televisões aos stands onde se vende mais”, afirma. Desse modo, segundo João Fontes, tudo parece ter corrido pelo melhor nesta Feira, “o que não é verdade”. “Não sei onde eles querem chegar”, remata o livreiro.

Vendas semelhantes a 2004

A Feira de 2004 é termo de comparação para as editoras quando chega a hora de fazer o balanço da edição deste ano.

Nelson Lima, representante dos pequenos editores, que não têm verba suficiente para adquirirem um “stand” e que, por isso, se juntam na porta de saída do pavilhão, considerou que este ano “a Feira esteve mais ou menos igual a 2004, o que é mau”. Para Lima, a crise económica é a única explicação para novo insucesso nas vendas.

Na Dom Quixote, o discurso é semelhante. As vendas foram pouco melhores do que o ano passado. Para o responsável do “stand” da editora, a melhoria este ano deveu-se à data de arranque da feira – um dia 25, altura do mês em que a maior parte das pessoas recebem o salário.

A Relógio de Água vendeu bastante bem este ano, mas o sucesso deve-se, como explicam, à publicação recente de obras muito procuradas, como o livro dos humoristas Gato Fedorento e de “Portugal Hoje, o Medo de Existir” de José Gil, um fenómeno de vendas no campo do ensaio.

Texto e foto: Duarte Sousadias