O auditório da reitoria da Universidade do Porto (UP) foi muito grande para tão pouco público. Beatriz Pacheco Pereira, fundadora e organizadora do festival de cinema Fantasporto, professora e escritora, encerrou o ciclo de conferências “Ver e Ler, Ler e Ver”, organizado pelo Instituto de Recursos e Iniciativas Comuns da UP (IRICUP).

O tema “As Mulheres na Literatura e no Cinema” foi abordado num discurso distante do académico, mais confessional e autobiográfico. Embora o panfleto prometesse uma palestra sobre o diálogo entre as artes plásticas e escritas, abordando o caso das mulheres que trabalham nestas áreas, Beatriz Pacheco Pereira preferiu falar dos obstáculos que uma mulher encontra no mundo das artes, particularmente no cinema, em Portugal.

Muitas vezes minimizada por ser irmã e mulher de duas figuras públicas, Beatriz assumiu frontalmente que em Portugal há desigualdade entre homens e mulheres, particularmente no mundo do cinema. “As mulheres não ganham dinheiro no cinema. Na literatura, na música, nas artes plásticas, é um pouco mais fácil conseguir-se reconhecimento”, disse.

“É complicado ser mulher e ter opinião em Portugal”

O caso da comunicação social também mereceu a atenção da professora. “Nas redacções dos jornais e das televisões vemos principalmente mulheres jovens. Contratam-nas porque gostam delas, porque são bonitas, não pela capacidade de trabalho ou pelo mérito. Quando se casam ou têm filhos, as mulheres saem de circulação, são substituídas. Não vemos mulheres com mais de 35 anos nas redacções”, afirmou.

Também na televisão, defendeu Beatriz Pacheco Pereira, as mulheres estão em desvantagem: “há comentadores homens, muito bem pagos, nas televisões. Mas não há mulheres. Em Portugal é uma coisa complicada ter-se opinião quando se é mulher”.

No entanto, a professora admite que o principal problema da sociedade portuguesa é o da falta de reconhecimento do mérito. E isso afecta tanto os homens como as mulheres.

Novo livro em jeito de “vingança pessoal”

Assumindo-se como uma mulher do Porto, Beatriz prepara um livro sobre as personalidades femininas da cidade no início do século XXI. “É uma vingança pessoal”, explicou em jeito de brincadeira, “já que, aquando da Porto 2001, se fez um dicionário das figuras do Porto e, em 600 personalidades, apenas 33 eram mulheres”.

Em diálogo com o marido Mário Dorminsky, também ele organizador do Fantasporto, presente na plateia, Beatriz Pacheco Pereira recusou cair no discurso da vitimização, incentivando as mulheres a “terem voz, a produzirem mais, a serem menos modestas…” para evitarem ser “seres passivos”.

O público, apesar de escasso, deu novo colorido à discussão, debatendo e lançando questões relativas ao papel da mulher na sociedade e na cultura. De um tema tão complexo ficou apenas a certeza de que haveria assunto para mais conferências.

Texto e foto: Andreia C. Faria