Morreu um dos maiores vultos da ciência em Portugal. Mário Corino de Andrade, o descobridor da “doença dos pezinhos”, morreu ontem, quinta-feira, ao início da tarde.

O corpo está em câmara ardente na sala da biblioteca de Química do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), onde permanecerá até às 00h00, e de onde sairá, amanhã, às 11h30, para o cemitério do Prado do Repouso, no Porto.

António Martins da Silva é neurologista no hospital de Santo António e professor catedrático do ICBAS e recorda a “relação de 35 anos de convivência” com Corino de Andrade, de quem foi aluno, mas também colega no Santo António. “Foi com ele que aprendi neurologia”, recorda.

Que memórias guarda de Corino de Andrade?

Falo na condição de amigo do professor, com quem tive uma relação de 35 anos de convivência, como professor de Biomédicas, mas também como médico do hospital de Santo António, onde aprendi neurologia com ele. Falo como professor da UP, mas também como médico do hospital.

Como resumiria o percurso de Corino de Andrade?

Fez a sua vida académica em Lisboa. Fez a sua diferenciação em neurologia em Estrasburgo nos anos 30. Quando regressou a Portugal, esteve em Lisboa. Veio fazer neurologia para o Porto, para o hospital de Santo António, onde criou uma enfermaria de neurologia.
Começou a dinamizar um grupo de colaboradores, como o doutor João Resende. Ambos fizeram o embrião do que viria a ser o serviço de neurologia [do Santo António].
No final dos anos 30, começa a interessar-se por uma forma peculiar de neuropatia que começa a investigar na zona da Póvoa de Varzim e que deu origem àquilo que se chama hoje em dia a “doença dos pezinhos”, a paramilóidose ou a “doença de Andrade”.

Que outros contributos trouxe Corino de Andrade para a ciência e para o ensino?

A grande virtude do Corino é ter formado uma equipa no Santo António que atravessa todas as ciências neurológicas clínicas e básicas também.

Essa convivência de várias ciências num espaço é também visível no ICBAS, que o professor Corino ajudou a fundar, entre 1974 e 1980?

É um contributo notável para a Universidade do Porto. Ele dizia que os alunos não podiam entrar e sair por um tubo…

Essa ideia do tubo tem a ver com as várias ciências ensinadas no ICBAS?

Sim. Trazer as ciências básicas para as ciências biológicas e para a neuromedicina. Isto foi 30 anos antes do processo de Bolonha, o que é marcante.

Pedro Rios
Foto: FMUP