“O diagnóstico está feito e há bons exemplos de empresas inovadoras em vários sectores” em Portugal. “É uma questão de replicar os bons exemplos”, já que a “inovação é a única vantagem competitiva” possível para Portugal no actual contexto económico mundial.

As ideias de João Picoito, CEO da Siemens Communications em Portugal, resumem as principais ideias do debate sobre a dimensão económica e social da inovação científica e tecnológica, que encerra o ciclo de conferências comemorativas do 20º aniversário do INESC Porto. A conferência decorreu hoje, segunda-feira, na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto.

Rui Guimarães, director executivo da COTEC Portugal, apontou o baixo investimento em capital de risco e uma “considerável dose de ‘provincianismo’ que bloqueia o desenvolvimento de empresas com elevado potencial de crescimento” como razões para a falta de investimento na inovação.

Apesar do diagnóstico preocupante, o responsável da COTEC referiu como positivas a “maior sensibilidade das universidade” para a economia do conhecimento e a “percepção generalizada de esgotamento dos modelos económicos tradicionais perante a globalização”.

Tanto Rui Guimarães como João Picoito convergiram quanto à necessidade de uma estratégia nacional para a inovação. Guimarães deu o exemplo da medida anunciada pelo Governo espanhol na semana passada de financiar projectos longos (de 4 a 6 anos), com “empresas tractoras” como coordenadoras.

João Picoito avançou com a ideia de criar um programa de certificação de inovação nas empresas, semelhante aos que existem para a qualidade e ambiente.

Já para Lino Fernandes, assessor do Ministério do Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) e antigo presidente da Agência de Inovação, “o problema não é tanto a inovação”, mas antes a “estrutura da economia portuguesa” que “não está adequada para o novo contexto da economia mundial”.

“A unanimidade que há em Portugal em torno da inovação é, em grande parte, um discurso oportunista e ideológico”, acusou. Para o assessor do MCTES, “existe um Portugal inovador” e há “boas empresas”. Falta “dar coerência global” e “fazer a leitura do sucesso no contexto actual”.

Universidades e empresas

Boa parte do debate foi dedicado à relação entre universidades e o mundo empresarial. João Picoito deu o exemplo da sua empresa, a Siemens, que coopera com as universidade de Aveiro e do Minho para investigação básica. “Precisamos de ‘fundamental research’, mas não gostamos de fazer”, explicou.

Rui Guimarães salientou o papel das universidades numa “fase intermédia” da evolução da estrutura empresarial portuguesa, numa altura em que as empresas não têm recursos qualificados em I&D em número suficiente. Contudo, sublinhou, “as universidades não podem ser ‘estações de serviço’” para as empresas

Texto e fotos: Pedro Rios