Os estudantes portugueses do ensino superior dependem dos rendimentos familiares, vivem com os pais e têm pouca ajuda do Estado. Além disso, têm poucas experiências laborais antes de ingressarem no ensino superior e são na sua maioria mulheres (60,6%). São dados do relatório Eurostudent 2005, divulgado ontem, que compara as condições económicas dos estudantes de 11 países europeus.

Há apenas três países (Espanha com 23%, Alemanha com 23% e Itália com 9%) com apoios estatais ao alunos inferiores aos que se praticam em Portugal. A ajuda do Estado português no apoio aos alunos é de 24%. O Reino Unido tem o apoio estatal mais elevado com uma ajuda de 85%, através de empréstimos, que são pagos depois de terminados os estudos. Em Portugal, o apoio é feito apenas por bolsas.

Portugal é o país analisado no relatório [PDF] que apresenta a maior dependência dos estudantes face às famílias. 72% dos estudantes depende economicamente das famílias, um valor três vezes superior às outras fontes de financiamento (trabalho ou apoio do Estado). Na Irlanda, Finlândia e Holanda, os pais suportam em 15, 14 e 11%, respectivamente, os filhos.

Apenas 19% dos alunos portugueses do ensino superior tiveram experiências de trabalho anteriores ao grau de ensino que frequentam, contra 64% na Alemanha e 42% na Finlândia, os países analisados no estudo com valores mais elevados.

A pouca autonomia financeira contribui para a fraca mobilidade dos estudantes nacionais: apenas 8% já estudou no estrangeiro. Nesta categoria, são os espanhóis que se destacam, com 21%. A mobilidade é um dos objectivos do processo de Bolonha, no qual Portugal está envolvido.

Famílias com recursos e instruídas

O estudo do CIES/ISCTE, que forneceu os dados relativos a Portugal para o Eurostudent, refere ainda que os estudantes portugueses têm pais instruídos, quadros médios e superiores. 58% dos alunos são oriundos de famílias “melhor equipadas de recursos económicos, culturais e sociais” (dirigentes, empresários e profissionais liberais).

Contudo, o sistema está em “mudança acelerada”, como frisou ontem o ministro do sector, Mariano Gago. No ensino politécnico, 15,4% dos alunos são filhos de operários, 13,4% de assalariados. No ensino universitário apenas 7,8% tem pais operários e 8,7% assalariados. No privado, os valores são de 5,9% e 7,8%, respectivamente.

Há poucas diferenças entre as estruturas sócio-profissionais das famílias dos estudantes do ensino particular e cooperativo e as do ensino universitário público, com excepção de um reforço dos pais empresários, dirigentes e profissionais liberais (23,4% contra 14% no ensino universitário público).

Pedro Rios
Foto: Stock Exchange