O aumento dos gases com efeito de estufa na atmosfera poderá tornar os oceanos tão ácidos no final do século que toda a vida marinha ficará ameaçada, adverte um estudo divulgado em Londres.

O aumento dos gases com efeito de estufa na atmosfera poderá tornar os oceanos um microssistema letal para toda a vida marinha, adverte um estudo da Royal Academy. Os oceanos absorvem dióxido de carbono da atmosfera, fazendo baixar o valor do PH – um efeito que poderá derivar da queima de combustíveis fósseis.

O relatório da Royal Academy, com mais de 60 páginas, alerta para os efeitos que o aumento do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera pode causar no mar.

“Se continuar a aumentar o CO2 proveniente de actividades humanas, os oceanos ficarão tão ácidos em 2100 que poderão ameaçar a vida marinha de uma maneira que não podemos antecipar”, escreveu Ken Caldeira, do Lawrence Livermore Laboratory (Califórnia), co-autor do relatório.

Alguns cientistas estimam que mais de um terço de todo o CO2 produzido pelos seres humanos seja absorvido pelos oceanos.

Caldeira e os colegas concluíram que o CO2, ao dissolver-se em excesso no mar, produz ácido carbónico que corrói as conchas dos organismos marinhos e pode interferir na sua capacidade de absorver oxigénio.

Os investigadores acreditam que mudanças tão dramáticas no sistema de dióxido de carbono nas águas já não se observavam há mais de 20 milhões e anos.

Se a actual tendência para a poluição continuar, o aumento da acidez na água poderá impedir a formação de conchas e coral e ter um impacto negativo nas vidas de organismos cruciais como o fitoplancton e o zooplâncton, que constituem a base da cadeia alimentar, afirmam os cientistas.

Para Caldeira, este fenómeno não terá muito efeito no PH, mas “é mais uma prova de que as emissões de CO2 poderão estar a danificar o ambiente marinho de várias maneiras”.

“Os organismos marinhos têm de enfrentar um oceano cada vez mais ácido e cada vez menos salgado e um possível abrandamento da circulação em grande escala do oceano”, advertiu.

Mariana Teixeira Santos
Foto: Carlos Luís Ramalhão/Arquivo JPN