A pré-temporada dos campeões nacionais acabou por ser mais tranquila dentro de campo do que fora dele. Na realidade, esperava-se uma transição bastante mais complicada entre o estilo deixado por Giovanni Trapattoni e o futebol ofensivo e agradável à vista de Ronald Koeman.

Se o primeiro jogo, frente aos suíços do Sion não deu para ter uma ideia muito clara acerca do potencial do novo Benfica, a exibição pouco conseguida deu pelo menos a entender que os objectivos seriam mais do que marcar o mínimo e defender o resultado.

Cedo se destacou o meio-campo defensivo, com um surpreendente Beto, reforço proveniente do Beira-Mar, esforçado, “por vezes demais”, nas palavras do seu treinador, e o já experiente Petit, que conseguiu ser ofuscado pelo novo companheiro de equipa, em variadas ocasiões. Karyaka deu a impressão de ser um jogador valioso, a espaços.

Na defesa, a luta será renhida, mesmo depois do empréstimo de André Luiz ao Marselha. Anderson é um reforço de peso num sector que contava já com a qualidade de Ricardo Rocha e Luisão, deixando poucas oportunidades para o também talentoso Alcides.

O Benfica de Koeman procura passar a bola com eficiência e rapidez e quer aproveitar a segurança do meio-campo defensivo e da dupla de defesas centrais para permitir aos dois laterais a subida no terreno. Para tal, foi contratado Léo, experiente jogador brasileiro, para o lado esquerdo, onde terá a concorrência de Manuel dos Santos que conseguiu surpreender na época passada, levando inclusive à dispensa do campeão europeu Fyssas. Do lado direito, o “caso Miguel” acabou por abrir a porta de Alex, bem-sucedido na época passada no empréstimo ao Vitória de Guimarães. O internacional português terá em João Pereira o seu maior adversário na luta por um lugar no onze inicial.

No jogo da Luz contra o poderoso Chelsea do não menos importante José Mourinho, o Benfica de Koeman deixou uma óptima imagem de si. Mourinho, cuja opinião parece ter cada vez mais relevância no mundo do futebol, teceu rasgados elogios ao adversário, destacando o trabalho de Beto no meio-campo.

As fragilidades ofensivas

É no sector atacante, tão importante para a escola holandesa de futebol, que a missão dos campeões nacionais se complica. Nuno Gomes é um ponta-de-lança intermitente, ora marcando quatro golos de uma assentada, ora passando meses sem fazer com que a bola entre na baliza. Acima de tudo, o internacional português precisa de companhia.

De Mantorras espera-se que brilhe, mas o talentoso angolano está ainda longe dos seus melhores dias, principalmente na finalização. Depois, há o caso Tomasson, o avançado que vinha e não veio. No fim, quem o levou foi Trapattoni e o seu Estugarda. Karadas, apesar dos dois golos da pré-época, acabou por ser emprestado ao Portsmouth. Cedo demais, talvez, tendo em conta as opções disponíveis.

Aposta na juventude

Treinador holandês que se preze, ainda por cima proveniente da escola do Ajax, aposta nos jogadores mais jovens. João Vilela, Fernando Alexandre, Hélio Roque e Tiago Gomes tiveram oportunidades na Suíça. No entanto, apenas os dois últimos conseguiram, para já, um lugar no plantel principal. Tiago Gomes, jovem lateral-esquerdo, terá poucas oportunidades face a Santos e Léo. Hélio Roque, autor de excelentes iniciativas, terá que criar massa muscular e ser-lhe-ão dadas algumas hipóteses para se mostrar.

Pontos fortes: calma de Koeman, bons defesas centrais e meio-campo sólido.

Pontos fracos: pouca eficácia ofensiva, as contratações prometidas que não chegam.

Carlos Luís Ramalhão