O JPN inicia uma série de entrevistas aos principais candidatos à Câmara do Porto nas eleições autárquicas do próximo domingo.

Terça-feira – João Teixeira Lopes, BE
Quarta-feira – Rui Sá, CDU
Quinta-feira – Francisco Assis, PS
Sexta-feira – Rui Rio, PSD-PP

Com 36 anos, sociólogo, docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (UP), João Teixeira Lopes considera que nos últimos quatro anos a câmara não colaborou activamente com a UP. Em entrevista ao JPN, o candidato do Bloco de Esquerda à autarquia do Porto defende que sejam os estudantes da universidade a colaborar na execução de uma Agenda XXI Local.

O actual deputado do grupo parlamentar bloquista defende ainda que a Sociedade de Reabilitação Urbana obedece a “lógicas do mercado e da especulação” e propõe uma parceria entre Estado, autarquias e privados para a habitação social. Faz também duras críticas à gestão cultural de Rui Rio – “menos que zero”.

O reitor da Universidade do Porto (UP) disse em entrevista ao JPN, em Abril, que a câmara não teve um papel importante no crescimento da UP e que Rui Rio não aproveitou o potencial de ter no Porto a maior universidade do país. Concorda?

É inteiramente verdade. É fundamental que a câmara tenha uma parceria extremamente activa e permanente com a universidade, coisa que não teve. A única coisa que existe é aquele projecto, Porto Cidade da Ciência, que gastou mais dinheiro na publicidade e na propaganda do que em projectos concretos. Esta câmara é paroquial, virada para dentro e inactiva. Ao ser inactiva, ao estar essencialmente virada para a contabilidade, faltam-lhe projectos. Obviamente que nem sequer procura parceiros. Como é possível que a internacionalização do Porto não seja feita também através dos centros de excelência da nossa universidade? Não foi feito, o Porto não tem imagem internacional hoje. Tirando o futebol, não tem. E podia ter, a de cidade da cultura, da ciência, da arquitectura. É um vazio de ideias.

Quais são os seus planos para a área do ensino superior, no que pode passar pela câmara?

Queremos que sejam os estudantes recém-licenciados da UP a organizar todo o processo da Agenda XXI Local. Trata-se de promover o desenvolvimento através da auscultação e do envolvimento das populações. Isso implica ter pessoas ligadas à saúde pública, à medicina, à enfermagem, a engenharia, sociologia, psicologia, serviço social… Era uma boa forma de colocar a qualificação que a UP traz ao serviço da cidade e proporcionar uma entrada qualificada no mercado de trabalho aos jovens licenciados.

Concretamente em relação ao urbanismo, de que forma é que os estudantes podem ser tidos em conta?

Somos a favor que os estudantes e as associações de estudantes devem ter uma voz activa nos processos urbanísticos ligados à universidade. Não faz sentido absolutamente nenhum que tenham estado completamente afastados de toda a reconversão dos novos pólos. Temos hoje uma espécie de universidade em arquipélago, conjuntos de ilhas que não estão ligadas entre si. Não há pontos de encontro, onde os estudantes possam conhecer-se sendo de faculdades ou universidades diferentes.

Isso não é inevitável devido à arquitectura citadina e à forma como a universidade cresceu?

Não tem necessariamente de ser. A arquitectura citadina foi muito mal pensada. E penso que se tivesse havido maior participação dos estudantes isso poderia ter sido evitado. Os estudantes estão muito mais habituados a viver no espaço e podiam dar sugestões exequíveis e oportunas. A questão aqui também é que é fundamental criar espaços de encontro entre as várias faculdades e os vários pólos.

Essa ideia vai de encontro ao velho sonho do Pólo Zero?

Como se sabe, muitas faculdades não têm instalações adequadas. A maior parte não tem uma sala de convívio. Por isso, somos a favor de uma estrutura de encontro multi-usos onde existam uma sala multimédia, uma unidade de inserção na vida activa, um posto de informação juvenil, uma biblioteca, uma sala de estudos, etc., que possa servir para os estudantes universitários se encontrarem seja qual for a sua faculdade.

Agrada-lhe a localização do Pólo Zero na Praça de Lisboa?

Não tenho absolutamente nada contra. É central, é próxima da futura localização da reitoria… É importante que os estudantes estejam envolvidos. O modelo de gestão desse projecto tem de ter uma forte participação dos estudantes, caso contrário assistiremos de certeza a lógicas que já conhecemos.

A FAP defende que a câmara deve mediar o impasse entre a câmara e a reitoria relativamente ao Centro Desportivo Universitário do Porto (CDUP). Concorda?

A câmara, mas o Estado também. E não só o papel de mediação, mas também o de financiamento. A autarquia pode e deve financiar o Estádio Universitário, porque assim vai existir uma contratualização entre o Estádio Universitário, a universidade e a própria autarquia. Isto vai abrir as portas do Estádio à fruição de vastos sectores da população que não têm acesso a práticas desportivas. E ao mesmo tempo a câmara poderia contribuir financeiramente para a recuperação daquele espaço, que está muitíssimo degradado.

Pedro Rios
Tiago Dias
Fotos: Joana Beleza