“Portugal é de longe o país da União Europeia (UE) com maior desigualdade entre ricos e pobres”, refere um relatório divulgado pela associação humanitária OIKOS, que hoje, segunda-feira, assinala o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.

A Organização das Nações Unidas (ONU) estima em 1,5 biliões o número de pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza, um flagelo que aumenta ao ritmo de 25 milhões de afectados por ano.

Um quinto dos portugueses abaixo do limiar da pobreza

“A pobreza em Portugal é um problema social grave e o seu não reconhecimento tem-se revelado, ultimamente, um dos maiores entraves à sua erradicação”, menciona um manifesto divulgado hoje pela OIKOS, que lembra que um quinto dos portugueses vive no limiar da pobreza (21% da população).

Segundo a OIKOS, 12,4% da população activa não ganha mais do que o salário mínimo nacional, enquanto 7,2% da população activa está desempregada. Só no ano de 2003, mais de 5.000 trabalhadores “tiveram o seu trabalho reduzido ou suspenso”.

No âmbito dos reformados, 26,3% recebem menos de 200 euros de reforma por mês e 147.332 recebem o Rendimento Social de Inclusão (151,84 euros).

País tem a pior distribuição de riqueza

O documento subscrito salienta também que as 100 maiores fortunas portuguesas representam 17% do Produto Interno Bruto nacional, pelo que o país tem a pior distribuição de riqueza no seio da UE com os 20% mais ricos a controlar 45,9% do rendimento nacional.

João José Fernandes, director da OIKOS, aponta algumas razões para a dimensão do problema, tais como a especulação da economia, a desinformação e a falta de fiscalização. “O Estado pede aos portugueses para apertar o cinto, mas não fiscaliza, só recolhe dividendos. A fiscalização é cega e quem paga a factura são os trabalhadores por conta de outrem que não conseguem fugir”, salienta ao JPN.

O responsável considera ainda imprescindível a avaliação do problema à margem de ideologias que “aprisionem o debate” e a aplicação de uma política de criação de emprego.

Sector privado tem de ser responsável

João José Fernandes avisa ainda que o sector privado não tem cumprido com a sua responsabilidade social e que tem privilegiado a especulação em detrimento da criação de postos de trabalho.

“A pobreza não é apenas falta de dinheiro, mas também falta de acesso a bens que conferem dignidade social ao ser humano”, remata o director da OIKOS.

Pedro Sales Dias
Foto: Ramunas Stepanauskas