Para já é apenas uma hipótese, mas pode tornar-se realidade no final do ano. O Cinema Nun’Álvares, na Rua de Guerra Junqueiro, no Porto, pode ter as projecções contadas: o contrato entre a Medeia Filmes, que explora a sala, e a empresa proprietária do espaço termina em Dezembro, e a sua renovação está envolta em incertezas.

“Neste momento, estamos ainda a estudar uma hipótese, para ver se se consegue criar condições [para assinar novo contrato]”, esclarece António Costa, da Medeia Filmes. “Nas condições em que estamos a explorar o cinema não dá para continuar, porque são condições deficitárias. Estamos a ver se há hipótese de alterar isso”, diz.

O responsável não quis, no entanto, adiantar ao JPN que hipótese está a ser analisada. “São coisas que estamos a estudar, e não quero estar a falar sobre isso”, justificou.

António Costa prefere falar dos motivos que podem levar a um eventual encerramento do Cinema Nun’Álvares. “O cinema está a ser deficitário. Em termos de lucro, nos últimos dois anos só tem dado prejuízo”, esclarece. “Há uma quebra de espectadores de cinema no país inteiro”, sustenta.

A somar a isso, a desertificação das grandes cidades contribui para a crise nas salas de cinema tradicionais. “A cidade [do Porto] está a perder, de ano para ano, uma quantidade grande de habitantes. A Rua de Guerra Junqueiro [morada do Nun’Álvares] era uma zona residencial. Agora, é só clínicas e escritórios de advogados; as pessoas vão viver para a periferia”, lamenta.

O responsável da cadeia de cinemas considera também que “no Porto, houve uma grande apetência por grandes superfícies. As pessoas que moram nas periferias vão aos cinemas desses espaços. E mesmo as pessoas que moram na cidade, também se deslocam até lá para ver cinema”.

Salas tradicionais desaparecem

Neste momento, o Nun’Álvares é o último exemplar de cinemas tradicionais a funcionar com uma programação regular na cidade do Porto.

Pelo caminho ficaram, ao longo dos últimos anos, cinemas como o Batalha, Trindade, Lumiére, Pedro Cem ou Águia d’Ouro, entre outros.

O Passos Manuel reabriu, mas sem programação regular. Restam os cinemas dos centros comerciais da cidade – Cidade do Porto, com quatro salas, e, mais recente, o Dolce Vita, com nove.

A Medeia Filmes iniciou a exploração do Nun’Alvares em 1996 e, desde então, a sala tem-se voltado para o cinema alternativo às propostas oferecidas pelas salas das grandes superfícies, apostando, sobretudo, no cinema de autor.

Esta sala portuense é uma das 1.320 salas europeias que integram a rede Europe Cinemas, estrutura apoiada pelo programa Media Plus da União Europeia.

Ana Correia Costa
Foto: Cinemas do Porto