A um dia da realização da 2ª edição do Fórum “Porto Cidade Região”, que decorre amanhã, quinta-feira, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (UP), o vice-reitor Francisco Ribeiro da Silva, admite, em entrevista ao JPN, que no Porto há falta de convergência e falta de vontade entre massa crítica, empresas, autarquia e universidade.

O vice-reitor considera que a UP deve ser uma parte mais activa nas tomadas de decisão e liderar o processo de competitividade no Porto. “A própria universidade não pode continuar a dizer é preciso que se faça, sem ela própria fazer”, reconhece.

Quais são as principais diferenças no fórum de amanhã relativamente ao do passado?

No ano passado, fizemos uma visão genérica dos problemas do Porto e da região, que eram a imagem do descontentamento e decepção que se sentia. O tipo de problemas que existiam e que impediam que o Porto fosse, como foi noutros tempos, uma voz activa e forte no panorama nacional e internacional. Desta vez, isolamos a questão actual da competitividade e tentamos dissecá-la, fazendo dela a preocupação principal.

O Porto não é competitivo?

Tem de ser mais competitivo. A competitividade hoje em dia põe-se em todo o mundo e não apenas dentro do país. Temos de ser competitivos no “know how”, mas também em valências de tecnologia de ponta.

Falta algum protagonismo à cidade?

Falta. Uma das razões que podem estar na base é que nem sempre se tem conseguido reunir a massa crítica, as pessoas que pensam em termos de futuro e de conhecimento. Nem há falta de massa crítica, nem falta de vontade; o que há é falta de convergência das duas coisas. Há alguma falta de convergência entre a UP e outras entidades da cidade.

Existe falta de convergência entre a câmara e a UP?

Eu diria que há boa vontade de parte a parte, mas em termos de projectos no terreno é preciso ir mais além. As empresas também têm de ser uma parte activa. Os poderes constituídos, não só a câmara, mas também a Comissão de Cordenação da Região Norte e o próprio poder central, têm de se conjugar.

O que pode ser feito para tornar o Porto mais competitivo?

Pode ser dada aplicabilidade concreta ao que vai sendo pensado e criar empresas que apliquem as inovações tecnológicas que vão aparecendo. A própria universidade não pode continuar a dizer é preciso que se faça, sem ela própria fazer. O diagonóstico já está feito, nós temos é de avançar para as soluções estratégicas.

A UP deve ser o motor da competitividade da cidade?

Sim. A UP tem-lo sido de alguma forma, mas pode ser ainda mais. Temos o exemplo dos institutos de investigação da universidade – o INESC, IBMC e IPATIMUP. Encontramos ali muita coisa já feita, mas que é preciso aprofundar. Hão-de haver nichos de actuação onde o Porto seja bom e se imponha ao mundo.

A universidade deverá tomar parte dos processos de decisão?

Não deve tomar parte dos processos de decisão política, mas da decisão empresarial deve sem dúvida, com a agência de inovação que já existe. A UP vai estando presente em muitos destes processos de uma forma ou de outra. Mas tem de ser uma presença mais activa. A ideia do empreendorismo como caminho para a competitividade é uma ideia em que hoje insistimos muito. Porque é que alguém que acaba o curso há-de ficar a espera de arranjar um emprego, em vez de ser ele próprio a criar a sua empresa?

Qual deverá ser o papel do Porto na Área Metropolitana?

Nas questões económicas poderá ser líder e um motor, mas tem de haver crescimento harmónico. Se houver macrocefalia excessiva o corpo [a restante área metropolitana] pode definhar. O metro, o abastecimento de água, o ambiente, já não são projectos que se resolvam ao nivel do município porque é preciso liderança e ela tem de estar em algum lado. Não vai estar em Lisboa, certamente.

O Porto devia apostar mais na ciência e na tecnologia?

Tem de apostar mesmo mais. Já é bom que a câmara esteja sensibilizada para isso. Mas é preciso que as palavras correspondam a compromissos efectivos. A UP deverá ser um agente dessa aposta.

Em que sectores pode o Porto investir e dominar?

Temos predomínio no sector económico, com o exemplo do Vinho do Porto. Outro sectores onde o Porto pode apostar são o metalúrgico, a tecnologia, a investigação cientifica e o turismo.

Quais são as suas expectativas para o Fórum “Porto Cidade Região”?

Espero dezenas de pessoas ou mesmo centenas. Neste momento temos cerca de 120 inscrições, mas esperamos ainda mais pessoas. Quem dera que houvesse uma ideia brilhante que saísse dali e que fosse alguma coisa concreta que os poderes constituídos vissem e pegassem para a desenvolver.

Pedro Sales Dias
Fotos: Getty Images
UP