A segunda edição do fórum de debate “Porto Cidade Região”, promovido pela Universidade do Porto (UP), que decorreu ontem, quinta-feira, na Faculdade de Engenharia da UP, trouxe à discussão as questões da competitividade naquela região de Portugal.

Perante um auditório razoavelmente preenchido, Aurora Teixeira, docente na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), apresentou uma comunicação acerca de “Qualificação e competitividade”. A moderação do debate ficaria a cargo do jornalista José Vítor Malheiros, director do “Público Online”.

Em jeito de balanço do “Segundo Encontro de Reflexão Prospectiva Porto Cidade Região”, ciclo de debates organizado pela UP, em Maio passado subordinado ao tema “Estratégias e Acções para a Competitividade”, Aurora Teixeira referiu alguns “desafios da universidade”.

Relativamente ao “desajustamento entre oferta e procura de qualificações avançadas”, a docente realça uma questão: “as universidades devem apostar numa formação avançada sem se preocupar com a procura do meio empresarial, ou devem intervir na criação e dinamização da procura?”. Acabaria por concluir que “universidades e empresas estão de costas voltadas”.

Doutorados evitam mundo empresarial

Na área de inovação e produção científica, “a região Norte tem uma capacidade limitada”. No que toca à “inserção dos doutores nas empresas”, Aurora Teixeira recorda um inquérito recente a 1.062 doutorados e doutorandos referindo que estes seriam “demasiado académicos para o mundo real”.

“Doutoramentos e mestrados alimentam a máquina de pós-graduações, retêm as pessoas no meio académico e retardam a inserção no meio empresarial”, aponta a docente da FEP.

“A universidade deve formar pessoas e investigadores com competências de liderança, de trabalho em grupo e de gestão”. Por não adquirirem essas competências, esses grupos “sentem-se mais inseguros fora do meio académico”, sustenta.

Pouca competitividade potencia fuga de cérebros

O processo de Bolonha, tema quase incontornável quando se fala em ensino superior, pode potenciar ainda mais a “fuga de cérebros” graças à mobilidade que irá permitir. “Corremos o risco de ver aqueles que são realmente bons e que não encontram postos de trabalho à sua altura [em Portugal] irem para o exterior”, alerta Aurora Teixeira.

A docente avança uma sugestão: “mudar os nossos conteúdos e olhar para o sistema universidade como olhamos o sistema empresarial”.

Debate recheado de críticas à universidade

Depois da intervenção de Aurora Teixeira, foi a vez de o director do “Público Online” assumir o papel de moderador de um debate entre a oradora e o público. Sem conseguir escapar ao formato de entrevista, José Vítor Malheiros interpelou a docente da FEP e, em seguida, não resistiu a deixar algumas críticas ao funcionamento da instituição universidade.

“A universidade tem de ser, por definição, um lugar de excelência a nível de ensino e de investigação, que organize e promova o debate das principais questões da sociedade”, começou.

Malheiros considera que, em parte, a universidade “não está a cumprir o seu dever”. Da sentença, exclui a “formação”, que acredita ser “de qualidade”. Mas refere, contudo, que “em Portugal há um espaço vazio que a universidade não ocupa, e que é clarificar os debates e equacionar as questões”.

“A universidade deve ser um lugar de debate, e não é. É um lugar muito conservador que teme o debate”, sustenta o jornalista do “Público”. “Cria muitos momentos de pseudo-reflexão e discussão, e não há uma continuidade desse esforço”, argumenta, sustentando que a universidade “deve ter um esforço de discussão permanente”.

O jornalista volta à carga: “A universidade deve organizar debates de forma estruturada. Deve definir-se uma ordem de trabalhos, os objectivos que se pretendem alcançar e os critérios de avaliação (o que quase nunca se faz na universidade)”, completa.

“É preciso saber o que foi bem feito e mal feito, se se atingiram os objectivos e, em primeiro lugar, dizer quais eram os objectivos, porque eu não sei quais são”, remata.

Deve haver um “esforço de sistematização”, defende. “Os objectivos não devem ser definidos à posteriori”, sentencia.

Ana Correia Costa
Foto: FEUP