Para “promover o livro alternativo e a edição de autor, que não passa no circuito comercial”, surgiu o Mercado Negro, uma feira do livro pouco convencional onde até há lugar para uma “zona de roubo”.

A quinta edição da bienal Mercado Negro – Feira do Livro Alternativo abre hoje ao público nas instalações da Cooperativa Árvore, no Porto. O certame decorre até ao próximo sábado. Até sexta-feira, o Mercado Negro está aberto das 15h00 às 20h00. No último dia, a feira funciona entre as 11h00 e as 18h00.

Neste mercado “paralelo” podem adquirir-se livros, pinturas, fotografias e crachás, adianta Raul Simões, um dos organizadores da feira, ao JPN.

Roubo consentido

“Quem fizer compras superiores a 35 euros tem direito a passar por uma zona e tirar um livro ou revista”, anuncia Raul Simões. Entramos na “zona de roubo”, portanto.

A ideia de organizar o Mercado Negro surgiu em 1997, durante uma conversa entre Raul Simões, da Editora Pé de Cabra, António da Silva Oliveira (ou A da Silva O – o pseudónimo literário), das Edições Mortas e Marcelino, da Editora Estratégias Criativas.

O grande objectivo era a realização de uma feira de “literatura alternativa e marginal”, um meio mais do que familiar para os três parceiros. Mas o conceito depressa ganhou novos contornos, acabando por se tornar inevitável a ligação entre “mercado negro”, “marginal” e “roubo”.

“Pensámos: que tal fazer um mercado negro em que se possa roubar livros, como antigamente, quando não havia circuitos de alarme e era possível palmar um livro?”, lembra Raul Simões.

São as editoras que participam na feira que contribuem para a “zona de roubo”: “cada editora entrega dois a três livros ou revistas” que podem ser levantados por cada compra superior a 35 euros.

Livros de cordel e de bruxaria

“Desde o livro de cordel, passando por obras de autores consagrados, até romances mais elaborados e autobiografias, há, nesta feira, uma multiplicidade de temas e de autores”, refere Raul Simões. “Temos obras do poeta Alberto Pimenta e de autores que estão a começar” a carreira.

Os escaparates vão estar preenchidos por livros de ficção, poesia, romance, história ou crónicas: há um “leque variado” de géneros literários, nota o organizador do certame.

Há ainda as revistas, a maioria com “temáticas próprias”: algumas são especializadas em questões ambientais e outras em temas alternativos, como o esoterismo. Também é possível encontrar “livros com temáticas mais radicais, como bruxaria”.

Os “pequenos livros de cordel” podem custar entre um e dois euros, enquanto que “uma ou outra revista pode andar à roda de dois, três euros”, explica Raul Simões. Mas, na generalidade, os livros serão comercializados a preços que variam entre os 10 e 20 euros. Há ainda os crachás, que custam entre um e 1,50 euros.

De acordo com as contas redondas de Raul Simões, em cima dos balcões vão estar entre 200 e 300 títulos, num total de cerca de 800 exemplares para venda.

Além dos livros, a edição deste ano do Mercado Negro oferece ao público outras possibilidades: pelas paredes estão dispostas, para venda, várias pinturas e fotografias de diversos autores, muitos deles jovens em início de carreira.

Ana Correia Costa
Foto: Duarte Sousadias/Arquivo JPN