“Na cabeça dos responsáveis da Metro do Porto a enormidade do projecto inicial mantém-se intacto. Aguardam apenas que apareça um Governo que faça sobrepor a prepotência ao diálogo”, acusou hoje, terça-feira, Jorge Almeida, um dos membros da comissão “ad hoc” do Hospital de São João (HSJ).

Em conferência de imprensa, Jorge Almeida considerou como “um afrontamento às decisões do Governo”, a “pretensa inauguração” daquele troço de linha “apelidada de viagem técnica”.

“É bom ver que se fosse um governo prepotente, ao gosto e estilo do senhor major [Valentim Loureiro]”, e não “um governo que gosta de dialogar [com quem se insurge contra o metro à superfície]”, “o metro já teria avançado em toda a linha fossem quais fossem as condições de risco para doentes e demais pessoas”, aludiu o médico.

Esboço da linha anterior mantém-se

A comissão chamou ainda a atenção para o facto de que, apesar da determinação da secretária dos Transportes de que o Metro não avançaria para além da entrada da urgência, “o esboço da linha férrea mantém-se entre a actual estação terminal e a trincheira a poente da rua Hernâni Monteiro”.

O médico considerou que a recente alteração ao projecto inicial da linha amarela, que colocou a estação terminal antes da entrada da urgência, e o impedimento da inauguração da linha amarela a 10 de Dezembro por questões de segurança, “veio dar razão à comissão quanto ao risco que comporta a passagem do metro à superfície”.

Perigo de acidente com ambulâncias

O movimento cívico defende que a passagem do metro à superfície naquela zona envolvente ao hospital constitui “um tremendo erro de construção urbanística com nefastas consequências a vários níveis”.

Entre a série de prejuízos da presença do metro à superfície, a comissão aponta a insegurança e dificuldade de acesso dos doentes e dos milhares de utilizadores das instalações do Nó da Asprela e o congestionamento da estrada da Circunvalação, onde “os veículos cruzam-se em várias direcções, num autêntico nó cego viário”. “Isto parece Tóquio, mas com as estradas ao mesmo nível”, sintetizou Jorge Almeida.

Por seu lado, o acesso de veículos prioritários (recentemente solucionado com um corredor próprio) está dificultado, uma vez que as ambulâncias têm de se “cruzar com automóveis e autocarros à entrada e saída da da urgência. Um dia vai haver um acidente”, frisou o director da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, José Amarante.

A falta de lugares de estacionamento de quem se desloca ao hospital e os níveis de ruído, que aumentarão “caso as cercas do hospital e da Escola de Enfermagem sejam recuadas”, foram outros dos problemas apontados.

“Fazer diminuir a percepção de risco, como foi dito pela secretária de Estado dos Transportes, através de alterações pontuais, não afasta o risco real de um projecto que foi reprovado pelas mais diversas entidades”, referiu Jorge Almeida.

Pedro Sales Dias
Foto: Arquivo JPN