Em 2005, a seca extrema associada aos incêndios foi o pior dos acontecimentos ambientais destacados pelo balanço ambiental da Quercus, onde perfilam as melhores e as piores situações deste ano.

“Em 2005, o Governo aplicou medidas directas e superficiais sem ter em conta as medidas necessárias de médio e longo prazo que permitiriam a sustentabilidade do futuro”, refere, ao JPN, o presidente da Quercus, Hélder Spínola, que considera que foi desperdiçada uma boa oportunidade para a implementação do Programa Nacional Para o Uso Eficiente da Água.

Relativamente aos incêndios, Hélder Spínola afirma que falta preparação e meios no país para enfrentar condições climatéricas adversas e o tempo seco. Segundo o presidente da Quercus, fala-se muito durante a época de incêndios, mas depois esquece-se a aplicação das medidas prometidas.

“O ano de 2006 será o ano internacional dos desertos e da desertificação”, recorda o ambientalista, aludindo à decisão das Nações Unidas que tem o objectivo de envolver os países na necessidade de medidas concretas e sensibilizar a opinião pública mundial para a gravidade deste fenómeno.

Contra barragem no Sabor

No conjunto dos piores factores ambientais de 2005, a Quercus inclui também a manutenção da decisão de construção da barragem no Sabor, “cujos ganhos energéticos podem ser facilmente obtidos alternativamente com a melhoria da eficiência energética em Portugal, uma das piores da Europa” e a autorização do abate de sobreiros em Benavente.

Por outro lado, no âmbito dos melhores acontecimentos ambientais referidos no balanço, a Quercus realça o chumbo à incineração na Zona Centro, que representa “uma filosofia que a Quercus tem defendido, apostando na reciclagem”, o imposto automóvel com preocupações ambientais, a aprovação do Plano de Ordenamento da Orla Costeira Vilamoura-Vila Real de Santo António, a entrada em vigor do Protocolo de Quioto e a aprovação do Plano de Ordenamento da Arrábida.

Portugal desvia-se de Quioto

A Quercus alerta, contudo, para o “péssimo desempenho” de Portugal no cumprimento das metas fixadas em Quioto. De acordo com um recente relatório da Comissão Europeia, Portugal será em 2012 o país da União Europeia que mais aumentou as suas emissões.

O dirigente refere ainda que “este ano nada ou quase nada foi feito e Portugal terá de gastar milhões de euros em licenças em vez de ter investido na prevenção”.

Questionado acerca do investimento do Governo em actividades de protecção ambiental em 2004 – 852 milhões de euros, segundo dados revelados hoje pelo Instituto Nacional de Estatística –, o presidente da Quercus salienta que “independentemente dos números, no terreno várias áreas não têm merecido atenção. Os problemas ambientais continuam a ocorrer e muitos deles agravam-se”.

Pedro Sales Dias
Foto: SXC