“Oliver Twist”, de Roman Polanski, poderá ficar na história como a última película a ser exibida na sala do Nun’Álvares. O cinema portuense encerra no próximo mês de Janeiro porque a Medeia Filmes, que explora a sala, não vai renovar o contrato (que cessa este mês) com a empresa proprietária do espaço, e não existem, até agora, quaisquer alternativas.

“O prejuízo é total”, justifica ao JPN António Oliveira, da Ciura (Imobiliária Agrícola Urbana), empresa que detém aquela sala de cinema. António Costa, da Medeia Filmes, sustenta a afirmação do proprietário do Nun’Álvares: “nos últimos dois anos, acumularam-se imensos prejuízos”. Este ano, o défice atingiu os 50 mil euros, “quase o triplo de 2004”, revela o responsável da Medeia.

Em 2005, uma acentuação no decréscimo do número de espectadores fez aumentar o saldo negativo. “Tínhamos uma média de 50 pessoas por sessão. Agora, a média é de duas a três pessoas”, contabiliza António Oliveira. O dono do Nun’Álvares culpa “os novos meios de audiovisual, os DVD e os DVD piratas”, por esta diminuição, argumentando que esses recursos “são sempre mais baratos do que ir ao cinema”.

António Oliveira garante, contudo, estar a “fazer as diligências possíveis”, no sentido de encontrar quem explore o cinema. Adianta, no entanto, que tal “está a mostrar-se impossível”.

“Tenho muita vontade que aquilo continue aberto”, mas “não há perspectivas”, lamenta, referindo que as distribuidoras de filmes com que já contactou “têm-se mostrado não interessadas” em explorar o Nun’Álvares. António Oliveira não quis, contudo, adiantar quais as empresas a que já avançou propostas.

Explica, no entanto, que fez as tentativas possíveis para que a Medeia Filmes continuasse a explorar a sala. Sugeriu até que, a título “experimental”, a distribuidora não remunerasse o proprietário durante uns meses, a fim de recuperar parte do prejuízo. Ainda assim, ambos os responsáveis concordam que o dinheiro proveniente da bilheteira não chegaria para as despesas correntes.

Face à inexistência de alternativas, António Oliveira vê-se forçado a fechar o espaço. “A partir de Janeiro, [o Nun’Álvares] estará encerrado, a não ser que surja um milagre”, reconhece.

Espaço pode ser convertido

O futuro do Nun’Álvares, a única sala de cinema tradicional do Porto que vinha mantendo uma programação regular, “pode depender de empresas privadas ou não”. Confrontado com a falta de alternativas, o proprietário não exclui a hipótese de transformar o espaço em algo que não um cinema.

Durante os últimos 15 anos, os cinemas tradicionais do Porto foram desaparecendo. Pelo caminho ficaram, entre outros, o Batalha, Trindade, Lumiére, Águia d’Ouro e Pedro Cem. A sala do Passos Manuel reabriu, mas sem uma programação regular.

Medeia mantém TCA e Cidade do Porto

No Porto, a Medeia Filmes garante que vai continuar a explorar o cine-estúdio do Teatro do Campo Alegre (TCA) e as quatro salas do Centro Comercial Cidade do Porto, que apesar de estarem a “dar prejuízo”, este não é tão significativo quanto o do Nun’Álvares.

António Costa assegura que a aposta na divulgação de cinema alternativo e documental – compromisso assumido pela Medeia aquando do início da exploração do Nun’Álvares, em 1996 – vai ter continuidade no TCA e em algumas salas do Cidade do Porto.

Ana Correia Costa
Foto: Cinemas do Porto