Começou hoje, terça-feira, a campanha para as eleições legislativas nos territórios ocupados da Palestina que vão decorrer no dia 25 de Janeiro. Nos últimos dias, vários incidentes têm levado a que o presidente da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), Mahmoud Abbas, seja pressionado para adiar as eleições.

Entre eles, estão o número crescente de raptos de cidadãos estrangeiros por grupos armados na Faixa de Gaza, o ataque contra o bar das Nações Unidas e o fim das tréguas com Israel por parte das Brigadas de Mártires de Al Aqsa (braço armado da maior facção política, a Fatah), das Brigadas de Al Quds (braço armado da Jihad Islâmica) e do Hamas.

A possibilidade de Israel proibir o voto dos bairros árabes de Jerusalém no dia 25, por receio de ser uma legitimação do movimento Hamas, foi a gota de água para Abbas ameaçar, ontem, adiar as eleições.

O Presidente da ANP afirmou ter o acordo de todas as facções envolvidas no processo eleitoral, mas o Hamas divulgou um comunicado, citado pelo diário israelita “Haaretz”, em que explica que não aceita que “a situação de segurança e anarquia na Autoridade Palestiniana seja usada como desculpa para adiar as eleições”.

Por seu lado, o membro do Comité Executivo da Fatah, Nabil Sha’th, afirmou ontem que só em caso de consenso nacional entre todas as partes envolvidas na eleição ou de proibição explícita por Israel do voto em Jerusalém é que as eleições serão adiadas.

Hoje, no lançamento da campanha da Fatah no cemitério onde está enterrado Yasser Arafat (antigo líder da ANP), Nabil Sha’th disse que esta é uma “oportunidade histórica para mostrar ao mundo que os palestinianos são um povo que merece liberdade e um Estado independente”.

Vitória do Hamas pode ameaçar Israel

O director dos serviços secretos israelita, Yuval Diskin, afirmou hoje, citado pelo “Haaretz”, que “Israel vai estar em sérios problemas se o Hamas ganhar as eleições para o Conselho Legislativo Palestiniano [Parlamento] ou se conseguir um resultado significativo”. Segundo as sondagens, espera-se que o Hamas atinja cerca de 30% nas eleições de dia 25.

Os estudos de opinião dão a Fatah como provável vencedora, se os seus candidatos concorrerem numa só lista e não em duas, como se chegou a equacionar.

Quarteto pede renúncia à violência

O Quarteto (EUA, União Europeia, Rússia e Nações Unidas) divulgou um comunicado em que esclarece que “aqueles que queiram ser parte do processo político não devem enveredar por actividades armadas ou de milícias, pois existe uma contradição fundamental entre tais actividades e a construção de um Estado democrático”.

“Desta forma, o Quarteto pede a todos os participantes que renunciem à violência, reconheçam o direito à existência de Israel e se desarmem”, acrescenta o comunicado.

São onze as listas candidatas às eleições de dia 25, num total de 728 candidatos para um Parlamento de 132 lugares.

Tiago Dias
Foto: Palestine Monitor