A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) anunciou hoje, terça-feira, em comunicado, que o Irão pretende enriquecer urânio “em pequena escala” em centrifugadoras, no centro de investigação de Natanz, reaberto hoje. Estados Unidos e a a Europa equacionam levar a questão ao Conselho de Segurança nas Nações Unidas (ONU).

O presidente da AIEA, Mohamed El Baradei, manifestou a sua “profunda inquietação com a decisão [do Irão] de pôr fim à suspensão das actividades relacionadas com o enriquecimento de urânio”, que quebra um acordo que durava há dois anos entre o país e a agência atómica, que previa a suspensão das pesquisas nucleares naquele país. Ontem, Baradei afirmou que o mundo está a “perder a paciência com o Irão”.

O Irão retirou hoje os selos da ONU da fábrica de urânio enriquecido de Natanz, contrariando os apelos dos Estados Unidos e Europa, que duvidam das intenções pacíficas invocadas pelo Irão para manter o seu programa nuclear. Segundo Teerão, as pesquisas nesta área têm como único objectivo responder à necessidade crescente de electricidade.

O responsável pela Organização de Energia Atómica do Irão, Mohammad Saeedi, afirmou, em conferência de imprensa, que o trabalho no centro de Natanz foi retomado sob a supervisão e concordância da AIEA. A agência confirmou a sua presença durante a retirada dos selos.

“O nosso trabalho de pesquisa não está limitado a um local”, ressalvou Saeedi. “Vamos desenvolver a investigação em todos os centros que já comunicamos à AIEA”, disse, garantindo que a agência da ONU vai supervisionar toda a pesquisa nuclear iraniana.

Comunidade internacional receia

As dúvidas dos Estados Unidos e União Europeia sobre as intenções do programa nuclear iraniano poderão motivar a proposta de sanções económicas no Conselho de Segurança da ONU.

Washington foi rápido a criticar a reabertura da fábrica em Natanz. O porta-voz da presidência norte-americana, Scott McClellan, afirmou que “qualquer retomada do enriquecimento de urânio ou das actividades de conversão constituiria uma nova violação por parte do Irão dos seus acordos com os europeus”. Acrescentou ainda que, caso o Irão não cumpra as suas obrigações, “não haverá outra escolha senão levar o caso” ao Conselho de Segurança da ONU.

De igual forma, os diplomatas europeus anunciaram que vão pedir um encontro de emergência da AIEA para equacionar levar a questão ao Conselho de Segurança. O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Jack Straw, garantiu, contudo, que “uma acção militar não está na ordem do dia”.

Risco “sério e real”

O professor Bruce Bueno de Mesquita, do departamento de Política da Universidade de Nova Iorque, afirmou ao JPN, em Dezembro, que “o risco do Irão desenvolver armamento nuclear é sério e real”, constituindo um dos temas quentes para o novo ano.

“Não é difícil construir uma arma nuclear e o Irão certamente tem os recursos em termos de físicos treinados e dinheiro necessários”, referiu o especialista na proliferação de armas nucleares.

Mesquita manifestou, contudo, “dúvidas” sobre se o Irão quer “construir armas nucleares ou se quer usar a ameaça de as construir para conseguir concessões da comunidade internacional”.

O professor considerou que caso o Irão venha a desenvolver armamento nuclear existe o “risco de um ataque preventivo por parte de Israel”, o que configura um “cenário muito perigoso e assustador”.

Pedro Rios
Foto: SXC