Em 2004, 65 mil do total das análises obrigatórias por lei à qualidade da àgua em Portugal ficaram por fazer. A denúncia parte da Quercus, que analisou o relatório “Controlo da Qualidade da Água para Consumo Humano”, referente ao ano 2004, publicado pelo Instituto Regulador das Águas e Resíduos (IRAR) em Novembro do ano passado, e concluiu que existem concelhos que “ainda não controlam a qualidade da água”.

A associação ambientalista considera que o elevado número de análises obrigatórias que não foram efectuadas, “pode esconder muitas situações causadoras de problemas para a saúde pública”.

A Quercus acrescenta, num comunicado enviado hoje, sexta-feira, que a situação é “ainda mais preocupante quando faltam realizar mais de 25% das análises” aos parâmetros tóxicos, nomeadamente aos pesticidas (44% das análises em falta).

Os dirigentes salientam também que sete concelhos não transmistiram ao IRAR a informação necessária acerca da qualidade da água. Desse total seis são do continente (Almeirim, Arruda dos Vinhos, Cuba, Mêda, Sertã e Vila Nova de Foz Côa) e um dos Açores (Lajes do Pico). O estudo inclui apenas os dados do Continente e da Região Autónoma dos Açores, dado que a Região Autónoma da Madeira tem uma entidade reguladora diferente.

Nas conclusões do estudo, o IRAR prefere destacar a evolução positiva da qualidade da água para consumo humano. “A percentagem de análises em falta baixou no último ano de 17,34% para 13,78%”, refere o instituto.

Concelhos admitem não controlar a água

“Dos sete concelhos, Arruda dos Vinhos e Sertã assumem não controlarem de todo a qualidade da água abastecida, o que é uma situação intolerável e que representa um desrespeito pelo direito dos cidadãos desses concelhos em beberem uma água de qualidade”, refere a Quercus.

Em 26 dos concelhos que prestaram a informação, a Quercus alerta para o facto de 50% das análises obrigatórias terem ficado por fazer, sendo que em 11 deles a percentagem aumenta para os 70%.

Porto esqueceu análises de qualidade

A análise detalhada dos concelhos com mais de 50 mil habitantes revelou que em quatro deles não se realizaram mais de 9% das análises “a que estavam legalmente obrigados, com todos riscos para a saúde pública”, alerta a Quercus, que aponta o dedo ao Porto por ter falhado em 100% a análise do parâmetro tóxico THM. Os outros concelhos foram Leiria, Ponta Delgada e Évora.

Gaia é exemplar

No extremo oposto, no leque de concelhos considerados exemplares pela Quercus, por “não apresentarem qualquer análise em falta nem em incumprimento”, encontram-se Barrancos, Belmonte, Bombarral, Esposende, Santiago do Cacém, Sines, Vila do Conde, Vila Nova da Barquinha e Vila Nova da Gaia.

Do total, apenas 17 concelhos não apresentaram “qualquer violação de parâmetros”, refere a Quercus.

Pedro Sales Dias
Foto: SXC