A Casa de Serralves acolheu ontem à tarde, quinta-feira, um debate sobre ambiente promovido pela Rede Natura 2000 – projecto comunitário de conservação da natureza e de ordenamento territorial, nascido das Directivas Aves e Habitats.

Representantes de entidades ligadas ao projecto juntaram-se para fazer o ponto da situação da rede europeia para a natureza e para as pessoas, concluindo que o projecto tem sido subaproveitado.

“A legislação comunitária nem sempre tem sido fácil de ‘engolir’ pelos portugueses. Ainda identificamos alcatrão com desenvolvimento”, afirma Jorge Palmeirim, responsável pela Liga para a Protecção da Natureza (LPN).

Jorge Palmeirim referiu as implicações éticas, estéticas e económicas da conservação da natureza. Acima de tudo, diz, “a natureza enquadra-se na nossa civilização e, como tal, gostamos de viver num contexto civilizacional estético”. Além disso, a natureza assume grande importância económica, já que “é fonte de atracção turística, fonte de matérias-primas e de espécies”.

Para o representante do LPN, a Rede Natura apresenta “mais-valias” pelo facto de ser “uma rede de valor europeu, integrada, feita com critérios explícitos e instrumento de defesa do património europeu, que obriga os Estados a respeitar as leis comunitárias”.

Manutenção das características paisagísticas

Jorge Palmeirim vê na Rede Natura 2000 a grande oportunidade para a agricultura europeia ultrapassar o actual momento de crise. “A agricultura é inviável do ponto de vista económico, devido ao crescente ritmo da urbanização e da globalização”, diz. Mas este momento pode ser ultrapassado se a agricultura for pensada como forma de gestão da paisagem, defendeu.

A União Europeia está a atribuir cada vez mais subsídios para a preservação e manutenção de traços culturais e paisagísticos, diminuindo, em contrapartida, os subsídios para a produção agrária.

“Como mantemos então a agricultura?”, questiona Jorge Palmeirim. Tal deve ser feito “dando dinheiro aos agricultores para conservarem a paisagem”.

Segundo o membro do LPN, este não é um investimento a fundo perdido para a União Europeia, já que “todos os financiamentos comunitários neste âmbito são, em geral, para projectos de desenvolvimento sustentável, o que significa que, mais tarde, há a possibilidade de a União reaver o dinheiro investido”.

Andreia C. Faria
Rita Pinheiro Braga
Foto: Rita Pinheiro Braga