Na noite de 4 de Março de 2001, a centenária ponte Hintze Ribeiro, que ligava Entre-os-Rios e Castelo de Paiva, caiu, arrastando para as águas do rio Douro um autocarro com 67 passageiros e três automóveis ligeiros. A tragédia, que manteve o país em suspenso, incrédulo, durante semanas, saldou-se na morte de 59 pessoas.

Seguir-se-ia uma longa e dolorosa operação de resgate dos corpos que só terminaria em Outubro desse ano com a recuperação de 23 cadáveres. Entretanto, o ministro do Equipamento, Jorge Coelho, demitira-se, enquanto os familiares das vítimas e a opinião pública exigiam conhecer os responsáveis pela queda da ponte.

Inquéritos promovidos pelo Governo e pela Assembleia da República atribuíram a tragédia a uma “conjugação de factores”, entre os quais a extracção de inertes a montante de Entre-os-Rios. Os rigores do Inverno, a antiguidade da estrutura e a necessidade de se abrirem duas comportas, a do Torrão, no Tâmega, e de Carrapatelo, no Douro, foram outras das possíveis causas do desastre.

Julgamento em Abril

Agora, cinco anos volvidos, duas novas pontes foram construídas em substituição da Hintze Ribeiro e dois funcionários da empresa projectista da ponte e quatro técnicos da Junta Autónoma das Estradas serão levados a tribunal a 19 de Abril, acusados do crime de violação das regras técnicas agravado pelo resultado, a morte de 59 pessoas.

Para Horácio Moreira, presidente da Associação de Familiares das Vítimas, a realização do julgamento é uma grande conquista, já que “foi uma batalha muito difícil, foram precisos cinco anos até chegar ao julgamento, o que é incompreensível”. “Este processo teve situações pouco claras e muitos percalços, mas finalmente vemos alguma luz ao fundo do túnel no sentido de apurar responsabilidades”, disse ao JPN.

Horácio Moreira revela o desejo dos familiares das vítimas de que o julgamento seja “célere e que este processo fique encerrado o mais rápido possível”.

A questão das indemnizações é assunto encerrado: o Estado atribuiu 50 mil euros a cada família enlutada e um adicional entre os 10 mil e os 20 mil euros a cada herdeiro, em função do seu grau de parentesco. Este foi, aliás, um processo “muito rápido e tratado de uma forma extremamente simples e humana. Resolveu-se logo após o acidente”, refere o presidente da Associação de Familiares das Vítimas, embora não deixe de realçar o “valor irrisório” das verbas atribuídas pelo Governo aos familiares das vítimas.

Andreia C. Faria
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