O auditório do Centro Regional do Porto da Universidade Católica acolheu hoje, quinta-feira, um colóquio inserido no âmbito do Ano Internacional dos Desertos e da Desertificação.

Vitor Louro, presidente do Programa de Acção Nacional de Combate à Desertificação (PANCD), o sociólogo Boaventura de Sousa Santos (na foto) e o general Loureiro dos Santos forneceram perspectivas sobre o fenómeno da desertificação e questões de segurança nacional.

Para Vitor Louro, a desertificação de algumas zonas do planeta está directamente relacionada com a pobreza, sendo assim uma “problemática transversal a toda a sociedade”. O presidente do PANCD identifica a desertificação com a fragilidade dos ecossistemas, causa e efeito de fenómenos de despovoamento, envelhecimento das populações das zonas afectadas, falta de oportunidades e pobreza.

Travar a desertificação passa, para Vitor Louro, por “tecnologias, financiamentos, mas, sobretudo, pelo envolvimento da sociedade”. O responsável pelo PANCD deixou ainda uma chamada de atenção aos governantes portugueses que, na sua opinião, “têm aplicado políticas de combate à desertificação de forma cega, esquecendo que o país não é homogéneo e que o litoral e o interior exigem políticas distintas”.

Perigo à segurança nacional

Boaventura de Sousa Santos, por sua vez, realçou a ligação entre globalização e desertificação. Para o sociólogo, há dois tipos de globalização: “a que se baseia na redução das políticas sociais e no neoliberalismo e a que resiste contra a desertificação e a fome”.

Referindo-se à questão da segurança nacional dos Estados, o sociólogo explicou de que modo a globalização transformou os conceitos de segurança nacional, que hoje abrangem questões ambientais. “A fome, o aquecimento global e os refugiados ambientais podem despoletar conflitos internos e externos. Se a população tiver fome, pode ser explosiva para os Estados”, alertou Boaventura Sousa Santos.

Países pobres são “principal problema” dos países ricos

A mesma abordagem foi explorada pelo general Loureiro dos Santos, para quem “a pobreza influencia as relações de poder, podendo gerar conflitos e o uso de força militar”. O general relacionou a proliferação do terrorismo com a pobreza, já que “os Estados pobres, fragilizados e sem controlo, abrem espaço a identidades tribais, étnicas, e religiosas, que usam o território como área de treino militar”.

Para o general, os Estados ricos devem alterar a forma como encaram as regiões pobres, pois poderão tornar-se “zonas de potencial exportação de violência”. Por isso, Loureiro dos Santos considera que “a globalização faz com a pobreza se transforme no principal problema dos países ricos”.

Texto e foto: Andreia C. Faria