Venderam-se mais de 200 mil unidades da pílula do dia seguinte no ano passado. O medicamento está no mercado português desde 2001 e a venda do medicamento tem aumentado de ano para ano.

O aumento da venda da pílula do dia seguinte é resultado da falta de informação por parte das jovens, considera a responsável pelo serviço de planeamento familiar no Hospital S. João. Ana Rosa Costa diz que a maioria das mulheres não lê a bula do medicamento e que muitas delas, mesmo se a lessem, não a conseguiriam perceber.

Teresa Oliveira, responsável pelo Espaço Jovem da Maternidade Júlio Dinis, no Porto, considera que a bula da pílula do dia seguinte é razoável. Segundo a médica ginecologista, o que falta é educar a população que faz desta pílula um método contraceptivo.

A médica considera que o aumento das vendas de pílula do dia seguinte deve-se à facilidade de acesso do medicamento de venda livre. “Permite que as pessoas saltem de farmácia em farmácia para comprar a pílula do dia seguinte sem que ninguém lhes diga nada para depois a tomaram de qualquer maneira”, alerta.

A contestação ao folheto informativo do medicamento partiu da Associação de Mulheres, que interpôs uma providência cautelar contra o Infarmed. A vice-presidente da associação afirmou que a bula do medicamento é “completamente omissa”. Alexandra Tete defende que, se a bula não mudar, a pílula do dia seguinte devia ser vendida apenas com receita médica. “A bula não refere a toxicidade [da pílula do dia seguinte], nem o facto de não dever ser tomada por menores de 16 anos”, explica.

Planeamento familiar em vez de contracepção de urgência

A pílula do dia seguinte deve ser tomada como medida de urgência e com a consciência de que “foi hoje e não é para repetir mais nenhuma vez”, afirma Teresa Oliveira. A médica responsável pelo Espaço Jovem da Maternidade Júlio Dinis defende que é preciso educar a população, encaminhando as pessoas para consultas de planeamento familiar em que podem ter acesso de forma gratuita a uma pílula contraceptiva.

Ana Rosa Dias vai mais longe e afirma que não se trata só de gravidezes indesejadas que o planeamento familiar ajuda a prevenir. Trata-se também de combater o aumento das doenças sexualmente transmissíveis, como a Sida, hepatites, sífilis, entre outras. “A gravidez indesejada não é uma doença, mas os casos de doenças [sexualmente transmissíveis] continuam a aumentar. O planeamento familiar é uma forma de combater tudo isto”, esclarece a médica.

Tatiana Palhares
Foto: CWFA