“Com estupefacção”. É assim que reage a Confederação Nacional de Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confragi), em nota de imprensa divulgada hoje, quarta-feira, à possibilidade de o Governo vir a mexer na taxa legal de alcoolemia para reduzir a sinistralidade.

Apesar de o ministro da Agricultura já ter desmentido qualquer intenção de alterar a taxa de alcoolemia em vigor, o assunto volta a estar em debate e provocou reacções firmes por parte da Prevenção Rodoviária e das associações vitivinícolas.

O início da polémica

No passado sábado, o secretário de Estado da Administração Interna, Ascenso Simões, afirmou, ao “Diário de Notícias”, a intenção de reduzir consideravelmente a taxa de álcool no sangue permitida por lei para a condução, caso o sector vitivinícola não tomasse medidas para travar o número de mortos nas estradas portuguesas que resultam da ingestão excessiva de álcool.

A Confragi classifica de “inoportunas e levianas” as afirmações do secretário de Estado da Administração Interna e explica que “foi com estupefacção” que reagiu à responsabilização exclusiva dos produtores de vinho pela sinistralidade em Portugal.

Entretanto, o ministro da Agricultura já desmentiu a intenção do Governo de avançar com a redução da taxa de álcool no sangue permitida por lei. Segundo Jaime Silva, o Governo não pretende mexer para já na taxa de alcoolemia e houve “má interpretação” das palavras do secretário de Estado da Administração Interna, que manifestava apenas a sua “preocupação” com o consumo excessivo de álcool por parte dos automobilistas. A haver alterações, diz o ministro, só em 2007.

Reacções concertadas à hipótese

Apesar do desmentido, a “preocupação” do secretário de Estado da Administração Interna suscitou críticas por parte da Confragi e também por parte da Prevenção Rodoviária Portuguesa e da Confederação de Agricultores de Portugal (CAP).

“A Confragi considera que o Secretário de Estado da Administração Interna deve é preocupar-se com a próxima época de fogos (…) e não incendiar a opinião pública com afirmações desajustadas e sem qualquer suporte científico”, pode ler-se no comunicado da confederação nacional.

Em reacção às declarações do secretário de Estado, a CAP afirmou que não cabe aos produtores de vinho levar a cabo campanhas para reduzir o consumo de álcool em excesso pelos automobilistas.

Também ontem no Parlamento, o secretário-geral da Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP), José Manuel Trigoso, disse que não vê “vantagens em reduzir genericamente a taxa”, porque “ainda se está longe de cumprir os 0,50”. O secretário-geral da PRP considera mais importante investir na educação dos automobilistas e na fiscalização do cumprimento da taxa que está em vigor.

Inês Castanheira