Duas décadas depois do acidente de Chernobyl, o debate sobre a criação de uma central nuclear em Portugal volta à praça pública. A 26 de Abril de 1986, uma explosão do reactor número quatro da central nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, lançou uma nuvem radioactiva que contaminou toda a Europa.

O número de vítimas em resultado da exposição à radiação não é consensual. Segundo a ONU morreram, por causas directas ou indirectas, nove mil pessoas. Já a Greenpeace avança um número muito mais elevado (93 mil vítimas). A Organização Mundial de Saúde estima que quatro mil pessoas tenham falecido vítimas de cancro na sequência da tragédia de Chernobyl.

O primeiro-ministro, José Sócrates, não se comprometeu mas mostrou-se aberto à discussão sobre a opção de uma central nuclear em Portugal, como solução para a dependência energética do país. O tema voltou à agenda politica depois de o empresário Patrick Monteiro de Barros ter apresentado, em Junho do ano passado, um projecto de construção de uma central de energia nuclear em Portugal.

Ao “Diário de Notícias”, Monteiro de Barros afirma que “o país não tem outra alternativa para satisfazer as necessidades de energia e cumprir Quioto”.

No entanto, as associações ambientalistas criticam esta solução energética e apontam “várias desvantagens em relação à opção nuclear”. Hélder Spínola, da Quercus, salienta “a questão da gestão dos resíduos radioactivos que até à data não têm nenhuma solução encontrada a não ser o armazenamento em condições muito precárias”.

Outra desvantagem são os custos de controlo da energia nuclear. “Ao contrário do que se diz, existem custos muito elevados na manutenção de uma central nuclear”, diz o dirigente da Quercus.

Hélder Spínola refere ainda a necessidade de optar por alternativas. “Quanto maior é a distância percorrida pela energia, maiores são as perdas, portanto apostar em centrais de energia eléctrica centralizadas é uma opção muito melhor do que a nuclear que reduz substancialmente a eficiência energética”, exemplifica.

Também a associação ambientalista Campo Aberto aconselha à reflexão “sobre a (in)segurança associada às centrais nucleares”. Em comunicado, a associação portuense afirma que “continua a não ser possível eliminar a eventualidade de um acidente grave numa central nuclear”. A Campo Aberto acrescenta ainda que a opção nuclear “é um claro obstáculo à aposta na eficiência energética e nas energias renováveis de baixo impacto ambiental”.

CIP considera nuclear incontornável

Para o presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), Francisco Vanzeller, o debate nacional sobre as energias “tem que incluir a opção nuclear”. As outras opções energéticas estão a ser postas em causa. Por um lado, “a escalada dos preços do petróleo é uma realidade à qual teremos de nos adaptar e as limitações de emissão de CO2 podem vir a eliminar as suas vantagens (da opção do carvão)”.

Também “a escalada de preços do gás natural” contribui, segundo a CIP, para a ideia de que uma central nuclear seria a melhor forma de reduzir a dependência energética do país.

A discussão sobre a possibilidade da construção de uma central de energia nuclear em Portugal continua numa altura em que se assinalam os 20 anos do acidente de Chernobyl e se debate o impacto económico e ambiental do recurso ao nuclear.

Ao JPN, José Carlos Marques, da Campo Aberto, que integra a “Plataforma Não Ao Nuclear”, disse acreditar que “do debate só poderá sair a convicção de que uma central nuclear não é opção para Portugal”.

Inês Castanheira
Paula Teixeira
Foto: SXC