Os protestos dos militares em Díli são “um teste ao processo de construção de um Estado”. A afirmação é de José Manuel Pureza, especialista em relações internacionais, que considera que a instabilidade nas forças militares pode “pôr em causa a democracia no país”.

“Não há dúvida nenhuma de que existem riscos relativamente a um estilhaçar da unidade política. O processo político em Timor é muito recente do ponto de vista histórico e, portanto, a fragilidade é grande”, diz Pureza. “Há uma situação de grande instabilidade institucional no país e quaisquer convulsões sociais de dimensão assinalável devem ser olhadas com muita cautela”, acrescenta.

O professor da Universidade de Coimbra explica que estas manifestações estão relacionadas com a falta de reconhecimento que as forças armadas de Timor sentem (uma vez que abdicaram de tudo para poder fazer a revolução) e com a falta de recursos económicos do país que garantam boas condições aos militares.

“O que as autoriades políticas de Timor-Leste podem fazer é manter abertas todas as pontes para que a natural insatisfação – que não vai esmorecer de um momento para o outro – possa ser gerida de uma maneira pacífica e não de uma forma violenta”, defende.

Mas o investigador mantém uma atitude optimista. “Também recordo que já houve momentos anteriores em que a tensão esteve instalada em Díli e em outras localidades de Timor e até com actores sociais de importância central, como a Igreja Católica, e foi possível chegar a um entendimento”, disse. Para isso, José Manuel Pureza diz que é “fundamental” uma “negociação paciente e sustentada em apoios fortes”.

“Apesar de tudo, acho que faz todo o sentido depositar expectativas em que é possível gerir as coisas de maneira pacífica. Nestes momentos há uma tendência natural para se exacerbar algumas posições que depois acabam por não ter uma tradução tão fiel”, afirma.

Os militares de Timor-Leste manifestaram-se hoje, sexta-feira, nas ruas de Díli, porque dizem serem alvo de discriminação étnica dentro das forças militares. Os protestos provocaram dois mortos e 28 feridos, nenhum português.

Tatiana Palhares