O que é que lhe faz ir tantas vezes para o caminho?

Há sempre várias razões. Normalmente, o que me faz ir para o caminho é o “stress”, que todos nós vivemos, no dia-a-dia das cidades, e o caminho é a ausência total de “stress”. É o encontro connosco mesmos e com a Natureza.

Em que é que a sua vida muda em cada caminhada? Como é regressar de Finisterra?

Quando regresso, venho sempre mais consciente. Da primeira vez que fiz o caminho, quando regressei já só queria voltar para lá. Porque descobri, se calhar, a minha própria natureza, a natureza humana, que é nómada e criativa.

Não tem nenhuma religião. Como é ser peregrina sem ser por motivos religiosos?

A maioria dos peregrinos que conheço não são católicos. Ser espiritualizado não é propriamente pertencer a uma religião. Quando vou para o caminho aproveito para falar com o meu ser interior.

Já recebeu vários peregrinos em sua casa, pessoas que conhece no caminho e que depois a vêm visitar. Como é que o caminho alterou o seu quotidiano?

É optimo. Quando dois peregrinos se juntam, normalmente falam do caminho, são sempre conversas muito honestas. Como as pessoas no caminho vão despidas de tudo, ou de tudo o que não são, estabelecem relacionamentos muito mais intensos, mais profundos, muito mais rapidamente.

Há alguma situação, algum momento do caminho, que a marque em especial?

O caminho de vez em quando apanha-nos de surpresa. Já me aconteceu estar a subir um monte às sete da manhã e de repente ver nascer o sol. Como estamos mais frágeis, mais sensíveis, desatei a chorar. Cada segundo é maravilhoso, comer uma sandwich de queijo pela décima vez em três dias é bom, tudo sabe bem.

Que conselhos daria a alguém que estivesse a pensar ir para o caminho?

Emocionalmente, não é preciso nenhum, o caminho é a melhor cura para depressões que existe. Muitas pessoas fazem o caminho num momento dramático da vida delas. Conheci um rapaz alemão que tinha perdido a mulher há um ano. Ele estava a fazer o caminho e já estava melhor.

Com que sensação é que fica quando chega ao último troço do caminho?

Fico com a sensação com que toda a gente fica: “quando é que vou fazer o próximo?”. Já me aconteceu, no autocarro de regresso, desatar a chorar por não me apetecer voltar para casa, para uma vida que não é natural. O caminho é viciante.

Texto e foto: Andreia C. Faria