É Abril e já parece Verão em Compostela, embora no Porto o dia anterior tenha sido de Inverno. A visita à catedral é obrigatória, mas o melhor é mesmo o movimento de vendedores, músicos, peregrinos e turistas nas praças da cidade.

A tarde vai ser longa e a caminhada entrará de certeza pela noite dentro. Por isso, o grupo com que o JPN segue apressa-se. Finisterra fica a a 89 quilómetros de Santiago. Serão três dias de caminho e introspecção, mas também de convívio até chegarmos ao mar.

Ponte MaceiraO caminho faz-se de sombras de árvores, campos a perder de vista, o murmúrio de riachos vindo de todos os lados. O fôlego não falta por pouco na difícil subida até Ponte Maceira, que é feita muito lentamente. Às conversas seguem-se longos silêncios. Ao fim de alguns quilómetros, já se perdeu a noção das horas e das distâncias e são 10 da noite quando chegamos ao albergue de Negreira. 22 quilómetros ficaram já para trás.

A próxima etapa, de 37 quilómetros, leva-nos a Oliveroa. Os ribeiros e riachos que correm toda a Galiza molham-nos os pés logo aos primeiros quilómetros. Horas depois estamos em Vilaserio, onde alguns peregrinos optaram por ficar na noite anterior. No único café da povoação, tomando o pequeno-almoço antes de partir, está Leandro, um argentino de 30 anos residente em Barcelona, que confessa as razões que o levaram a escolher o caminho como destino de férias.

“Desportivamente, penso que vai ser bom para mim. Quero alcançar o nível físico necessário para correr 20 quilómetros”, diz o argentino, que partiu de Leon há duas semanas e percorre 40 quilómetros por dia. Só que, admite, o caminho acabou por trazer-lhe mais do que a boa forma física: “caminhar sozinho muito tempo faz-te reflectir sobre muitas coisas, sobre o que queres e o que não queres, que coisas te podem ajudar a ser, amanhã, uma pessoa melhor”.

Hermínio, habitante em VilaserioHermínio, o dono do café, vive em Vilaserio desde que nasceu e há 50 anos que vê passar os peregrinos. Junta-se à conversa para explicar a importância dos caminhantes na pequena povoação. “Dantes, via passar quatro ou cinco peregrinos por dia, agora passam 40 ou 50. Tentamos tratá-los o melhor possível porque trazem dinheiro”, explica.

Depois de mais um “bocadillo” (espécie de ‘sandwich’ que constitui quase todas as refeições de um peregrino) e uns momentos de descanso, seguimos caminho. Chegar a Oliveroa implica mais algumas horas de viagem, por entre quintas de criação de gado ou pelo asfalto. As bolhas começam a aparecer e as dicas de outros peregrinos sobre como tratá-las são preciosas.

Texto e fotos: Andreia C. Faria