O dia seguinte é o último dia de caminho. Acordo cedo a pensar que, daí a 30 quilómetros, verei o mar e estarei em Finisterra. Parece improvável, já que até aqui a paisagem foi feita de pedras, montes e árvores. Opto por seguir sozinha, apesar do mau estado dos pés. As bolhas deixaram de importar há muito, agora são os tendões que me querem fazer desistir.

Perdida a noção do tempo e dos km, depois de caminhar durante horas pelo monte, o mar surpreende-me lá em baixo. A emoção é indescritível e por momentos os pés esquecem-se de doer. Sei que estou perto de Cee e posso descansar antes de seguir até Finisterra. E é ao parar que percebo que não vou poder continuar a pé. Os poucos quilómetros que me separam do meu destino acabam por ser percorridos com os olhos apenas, numa viagem de autocarro.

Em Finisterra, vila de pescadores, a alegria volta. Reencontro Leandro, Rachel e outros peregrinos. Alguns também não conseguiram fazer a pé a última parte do percurso, outros dizem que os pés lhes pedem que continuem caminho, mesmo que a terra termine ali. Os bares e a praia trazem um sabor de festa ao final da tarde. Há noite, cumprir-se-á o derradeiro ritual da peregrinação.

Praia de Mar de Fora, meia noite. A única luz é a das estrelas e das lanternas dos pescadores. Um grupo de peregrinos carrega lenha para depois se reunir em volta da fogueira, queimando, como é tradição, uma peça de roupa enquanto os outros aplaudem. Mais uns dedos de conversa até que o lume se apague. Despedimo-nos no albergue. Na manhã seguinte, voltaremos todos para casa.

Um caminho, diferentes experiências

O balanço da viagem é diferente para cada peregrino. Será que o caminho muda a vida de quem o faz? Será que fica a vontade de regressar? Arriscamos perguntas íntimas a Leandro, Rachel e Isabel e as respostas são diversas.

Isabel assegura que o troço Santiago-Finisterra mudou a sua vida, já que “ficou para sempre a vontade de voltar”. Leandro pensa fazer o caminho do Norte, mas terminar em Santiago. Da próxima vez, não seguirá até Finisterra porque quer “ver coisas novas”. O argentino considera que o caminho lhe trouxe, desde já, a condição física desejada. “Quanto ao mais, não sei. Espero que esta caminhada me ajude noutras coisas, mas só o tempo o dirá”, confessa.

Já Rachel explica como o caminho lhe trouxe outra visão da sua própria vida. “Se caminho olhando para baixo, os meus problemas parecem enormes. Mas quando olho em redor, eles parecem mais pequenos. É por isso que quis seguir até ao oceano, para ver a sua imensidão”, diz.

Texto e fotos: Andreia C. Faria