Chegamos ao albergue de Oliveroa ao final da tarde. Este albergue é diferente de todos os outros do caminho. Essa diferença deve-se a Puri, a alberguista, que, com os donativos deixados por quem passa, prepara todas as noites o jantar dos peregrinos. E a sopa quente ao fim do dia aproxima os peregrinos, que durante as caminhadas preferem o silêncio.

“Os peregrinos são como a minha família”, diz Puri. Cozinha diariamente uma sopa para “fazer com que se reúnam pessoas que não se conhecem, para colaborarem, para falarem do caminho”. É difícil ver chegar e partir tantos peregrinos todos os dias, por isso opta por não criar amizades profundas. Mas assegura lembrar-se de todos os que passaram pelo seu albergue. Há, até, “pessoas que me transmitem algo de especial”. “É como quando tens um namorado e há uma ‘faísca'”, confessa.

E é em Oliveroa que travamos conhecimento com outros peregrinos. Rachel tem 31 anos e é pianista. Veio do Canadá há um mês para percorrer sozinha os 800 quilómetros do caminho francês. Porquê? “Por solidão, acho”, responde, após alguma hesitação. O caminho trouxe-lhe “mais dúvidas, mas também maior capacidade de apreciar as pessoas e a sua companhia”.

Isabel é portuguesa e faz o caminho pela terceira vez. Para ela, ser peregrina é “meditar, estar sozinha, ver uma paisagem linda. E ter tempo, sem telemóvel, para ir à aventura”. Nas viagens a Finisterra, diz, “há sempre qualquer coisa mágica. Uma pedra espectacular, uma vista que não se espera, um recanto especial”. E, apesar de preferir caminhar sozinha, Isabel encontra “algo em comum” entre os peregrinos que conheceu. “É preciso haver despojamento, é preciso ter um certo espírito” para caminhar, considera.

Texto e fotos: Andreia C. Faria