Nos últimos anos, a Rua do Almada, uma antiga rua de ferreiros, abandonada por lojistas e moradores, tem assistido a um processo de revitalização e rejuvenescimento. As novas lojas de roupa, discos e artesanato “alternativo” são as principais responsáveis pela afluência de público à rua.

Mariana Faria é co-proprietária da Zona 6, loja de gravação de vinil única em Portugal. Mora há vários anos na Rua do Almada e abriu a loja há cerca de um mês, no prédio onde vive. Para Mariana, “o que se está a passar [na Rua do Almada] não foi um fenómeno espontâneo. O que aconteceu foi que várias pessoas ligadas ao teatro, à música, à dança, nos últimos anos vieram morar para aqui”.

O dinamismo trazido por artistas e pelas novas lojas tem feito do Almada uma rua muito procurada. “As pessoas aparecem e começa a despertar a vontade de muita gente jovem de vir morar para aqui. Neste momento, quando há uma casa para alugar, vai logo”, observa Mariana.

O mesmo dinamismo é notado por Sílvia Silva que, com mais duas amigas, abriu a papelaria, livraria e loja de artesanato Maria Vai Com as Outras, há algumas semanas. A Rua do Almada foi a escolhida para albergar o projecto porque “está a crescer”. “Penso que está a ter ‘bichinho’. E porque é uma rua típica do Porto. Encontrámos esta loja e apaixonámo-nos de imediato”.

Mas há outras razões para a crescente procura desta rua da Baixa portuense. Rosali, sócia da loja de roupa e vinil Retro Paradise, está no Almada há três anos. Considera que as lojas mais antigas, como a sua, atrairam projectos semelhantes para aquela zona.

Mas as rendas baixas são também um factor a ter em conta, na hora de lojistas e moradores escolherem onde se instalar. “Esta rua tem muitas casas abandonadas. É barata, por estar meio parada no tempo”, explica Rosali.

Rui Quintela, da loja de música Louie Louie, está na Rua do Almada por ter encontrado uma renda acessível. “Queria abrir a loja aqui na Baixa. Foi nesta rua a única em que encontrei uma renda compatível com o que devia pagar”, diz Quintela, considerando que “foi uma boa aposta, tanto que estão a abrir outras coisas aqui, está a ficar uma rua bem interessante”.

Uma “nova forma” de reurbanizar a Baixa

“[A Rua do Almada] está degradada. Isto não é nada como há uns anos atrás”. Quem o diz é Arminda, da Fortuna e Filhos Lda. Da loja de máquinas e ferramentas onde trabalha há 33 anos, Arminda não repara no “bichinho” de que os novos lojistas da rua falam. “Para já não se nota. [As novas lojas] podem, vir a trazer [mais movimento], não sei”, diz.

Mas a verdade é que os jovens lojistas têm projectos para a Rua do Almada. “Esta sempre foi uma rua de especialidades”, diz Mariana Faria, da Zona 6. Agora, transforma-se numa “rua de novas especialidades”, conclui.

Tal como Mariana, Rui Quintela, da Loiue Louie, vê nesta afluência de lojistas e de públicos “um exemplo de como se deve reabilitar a Baixa, sem a ajuda de nenhuma entidade. As pessoas vieram para aqui por iniciativa própria”. A mesma esperança tem Rosali, da Retro Paradise: “esta é uma rua com uma história já antiga. Ainda não há grande dinamismo, mas começa a haver. Estas lojas estão a tentar puxar as pessoas para cá”.

Andreia C. Faria
Fotos: Tatiana Palhares e Andreia C. Faria