Na Queima das Fitas do Porto, que decorre a 7 a 14 de Maio, vão ser distribuidos cerca de 300 mil preservativos, à semelhança de anos anteriores, numa iniciativa da Federação Académica do Porto (FAP) e da Comissão Nacional de Luta Contra a Sida (CNLCS).

A medida visa não só minimizar os comportamentos de risco sexual em condições de desinibição, mas também banalizar o uso do preservativo que, segundo especialistas na matéria, ainda é visto com reservas por grande parte da população jovem nacional.

O tema foi debatido ontem à noite, terça-feira, numa tertúlia informal decorrida no Café Majestic por vários especialistas na matéria. O docente da Universidade do Minho e colaborador da CNLCS Paulo Nossa defendeu a distribuição dos preservativos na medida em que as “políticas de prevenção de risco devem estar próximas das pessoas”.

Comportamentos excessivos, como sexo desprotegido, álcool ou violência não dependem do desenvolvimento cognitivo, sendo que o abuso de substâncias degenera maioritariamente para o desequilíbrio e negligência das prevenções. Carlos Fernandes, professor da Faculdade de Psicologia da Universidade de Aveiro, justificou assim o seu apoio à distribuição, que considera uma “boa medida preventiva desses comportamentos.”

Também presente na tertúlia, Miguel Leão, da Ordem dos Médicos, que já teve participação activa na comissão central da Queima do Porto em 1982, considera que a Queima só pode ser Queima com algum grau de excesso. “Todavia o excesso agora é maior: as drogas são diferentes. A ingestão de álcool em excesso considero desculpável, mas acho que já não se pode prevenir o excesso, somente o risco.”

Paulo Nossa alertou para algumas noções erróneas e populares no âmbito do risco e prevenção sexuais. Em termos de transmissão heterossexual há a noção de que o risco não existe ou é muito menor, o que, segundo o docente da Universidade do Minho, é uma das possíveis causas para o facto de que no ultimo semestre de 2005 existiram 4,5 novas infecções por dia.

10% do estudantes não usam preservativo em encontros ocasionais

“As pessoas podem ter informação sobre o risco mas não a interiorizam. Ter informação não é suficiente”. Paulo Nossa baseia-se em razões que lhe foram dadas para a não utilização do preservativo. Entre os motivos figuravam o facto de se confiar no parceiro, o bom aspecto do parceiro ocasional, o facto de não se sentirem à vontade por medo de o ofender ou porque a parceira usava a pílula, o que revela que, muitas vezes, o preservativo é utilizado não para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST) mas de gravidezes indesejadas.

Daí que em termos de prevenção de risco e DST a distribuição do preservativos seja uma condição necessária mas não suficiente. “É uma boa solução imediata mas não substitui a formação sexual”, disse o representante da Ordem dos Médicos, Miguel Leão.

Outros dos problemas debatidos foi a vergonha que subsiste na aquisição do preservativo, além do preço que ainda constitui um entrave. Segundo um estudo de Margarida Matos, psicóloga e docente na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, cerca de 6% dos jovens que acabam o ensino secundário não compram preservativos por estas razões.

Foi ainda aludido ao longo de toda a tertúlia que não é somente o uso de substâncias desinibitórias que provocam situações de comportamentos de risco.
A ingestão de álcool em excesso e o seu efeito desinibidor têm outras contrapartidas, sendo que a moderada ingestão de álcool, sem situações de extrema alcoolização ou de coma, são mais perigosas e potenciadoras de comportamentos sexuais de risco.

André Sá
Foto:SXC