O sistema de jogo de Co Adriaanse e a época portista analisados por José Neto, professor de Futebol do ISMAI

Como descreve o sistema de jogo de Co Adriaanse?

O sistema de jogo de Co Adriaanse é um sistema que privilegia a função ofensiva. O 3-3-4 ou o 3-4-3 é um sistema que tem como base fundamental o facto de a equipa se organizar partindo da frente para trás. Quando, porventura, a posse de bola está no adversário, ele gosta de pressionar. Isto é, no meio campo da equipa contrária, lutando pela posse de bola mais próximo da baliza do adversário. O problema não é o sistema em si, mas sim haver jogadores capazes de interpretar o sistema. A grande questão é: será que o sistema está na disponibilidade dos jogadores ou será que os jogadores é que têm de se adaptar ao sistema? Nós pensamos que em termos de estudo, que fazemos na faculdade com os alunos, o sistema é que tem que ir ao encontro dos jogadores, uma vez que é muito difícil um jogador adaptar-se a uma situação que não lhe é própria, tendo em conta as suas características fisiológicas, e até as suas características psicossomáticas. Mas Co Adriaanse, com a sua vertente de estudo, de perseguição de objectivos, e, se calhar, de “teimosia”, levou a que jogadores que à partida não estavam vocacionados para certas posições, as ocupassem de uma forma brilhante, como é o caso de Pepe.

Quais são os pontos fortes do FC Porto?

Penso que a equipa vale pelo conjunto. Hoje não podemos dizer que onze jogadores fazem uma equipa. A multiplicidade de critérios e a sua função é o que faz uma equipa, porque uma equipa é muito mais que a soma dos seus jogadores. A relação que eles desenvolvem é que constrói uma grande equipa. O FC Porto bebe a mestria dos seus líderes. Logo, qualquer indivíduo é candidato a campeão no FC Porto. Há indivíduos que nunca foram campeões em lado nenhum – o próprio Co Adriaanse nunca tinha sido. Mas penso que este treinador veio para o clube para lhe dar uma certa exigência, uma certa disciplina. O FC Porto transparecia uma certa crise de identidade e Pinto da Costa quis impor uma certa responsabilidade disciplinar. E Co Adriaanse foi, de facto, um indivíduo “teso”, que correu riscos, mas quem não corre riscos, não tem hipótese.

Quais as fraquezas desta equipa?

Os pontos fracos foram o início da época, os ajustamentos, estas mudanças estruturais. Aconteceram algumas falhas em certos jogos, em algumas substituições, em momentos que a equipa peregrinou um bocado da sua componente efectiva. Penso que, se os adversários tivessem sido capazes de ter as mestrias que tem o FC Porto, poderia ter sido muito difícil o Porto ter sido campeão. Aliás, o Sporting esteve quase a consegui-lo.

Para a próxima época, acredita que o FC Porto se vai afirmar como um clube “europeu”?

Penso que sim. Pelos automatismos conseguidos através da conjugação táctica, e se os jogadores se mantiverem no plantel de uma forma equilibrada, como acredito que possa acontecer, acho que o FC Porto do futuro, em termos internacionais, vai ser uma carta fortíssima.

Sónia Santos